Anjo da Guarda




“Anjo da guarda, minha companhia,
Guarda a minha alma de noite e de dia. Amém.”
Amém — diz também a mãe. — E agora, bons sonhos!
David volta a erguer-se de repente.
— Os anjos não existem — diz ele.
— Porquê? — pergunta a mãe, sentando-se na cama.
— Porque nunca ninguém viu um anjo!
— Quem é que disse isso?
— O Francisco. E ele também não tem de rezar.
— É verdade que não vês os anjos, mas podes senti-los.
— Isso são coisas que as pessoas imaginam, foi o que o pai do Francisco disse, e ele é médico.
— Eu não sou da mesma opinião — diz a mãe. — Eu acho que hoje tiveste um anjo da guarda.
— Porquê?
— Atravessaste a rua a correr sem prestar atenção.
David corou.
— Quem é que te contou?
— Uma vizinha que te viu.
É verdade. David quase fora atropelado. O condutor até o ameaçara com o dedo e apitou, todo zangado.
Felizmente os pais não sabem do resto: hoje David sentou-se num ramo seco de uma cerejeira, foi pescar a bola ao tanque, subiu a uma cerca alta e caiu da bicicleta.
E ali está ele agora, deitado na cama, bem protegido. Só uma esfoladela no joelho lhe lembra ainda a aventura de hoje.
David aconchega-se no cobertor e decide voltar amanhã a falar sobre anjos com o Francisco.

Max Bolliger

30 Geschichten zum Verschenken

Lahr, Verlag Ernst Kaufmann, 1991

Tradução e adaptação

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