Adeus, avô






Em casa do avô, os rapazes acordam cedo. O sol espreita pela janela.
O vento suave faz as cortinas ondularem. Um balde chocalha.
— Quem quer vir comigo apanhar cogumelos? — pergunta o avô.
Lá vão eles pelos campos fora — o Samuel, o Pedro e o avô.
Os galos cantam, fitas de fumo enrolam-se no ar.
Os rapazes correm para poderem acompanhar as passadas do avô.
Os cogumelos crescem em recantos frios e escuros.
Colhem-nos o mais depressa que podem.
— Há cogumelos para o pequeno almoço — anuncia o avô.
A avó frita-os na frigideira.
No jardim do avô, as rosas estão a florir.
Este Verão é quente e a seca é grande.
— Temos de regá-las — diz o avô — antes de o sol estar a pique.
Agora o avô vai fazer um caminho. Coloca lajes vermelhas e cinzentas junto dos carreiros das couves.
— Preciso de cimento — anuncia. — Vamos à cidade.
Os rapazes saltam para dentro do carro. A cidade não fica longe. O avô acena a todas as pessoas.
O Samuel e o Pedro vagueiam pela loja. Há imensas coisa para ver: cimento e pregos, por exemplo.
Depois o avô pergunta:
— Quem quer gelado?
Perto da casa do avô corre um rio preguiçoso.
O Samuel e o Pedro querem procurar galinhas d’água. Hoje não se veem nenhumas, mas o avô segura-os para que possam ver os cisnes a deslizar por entre os juncos.
No jardim do avô existe uma capoeira, onde seis galinhas castanhas cacarejam.
O Samuel e o Pedro vão buscar os ovos.
Está a fazer-se tarde, e as primeiras estrelas já se veem no céu. São quase horas de deitar.
O avô pega no acordeão, enquanto os rapazes se sentam, com os pijamas vestidos. Bebem leite e ouvem-no tocar. O avô sabe as suas melodias favoritas e muitas mais. As mãos parecem voar, enquanto os pés marcam a cadência.
Lá fora, a lua, amarela e redondinha, está pendurada no céu.
Deitados na cama, os rapazes ainda têm pedacinhos de música nos ouvidos.
Boa noite, avô.
É sexta-feira, e o Samuel e o Pedro têm de ir para casa. A mãe tira fotografias.
A última coisa que avistam é a camisa vermelha do avô, junto ao portão.
Adeus, avô…
Alguns dias mais tarde, o telefone toca. É o tio Jaime.
— O avô morreu esta manhã.
Na semana seguinte, agradecem a Deus a vida do avô.
O pai e os irmãos levam o avô aos ombros.
O Samuel e o Pedro põem flores na campa.
O pai chora.
No jardim do avô, o caminho está pronto. Ainda lá estão o balde, a pá, o carrinho de mão…
O Samuel and Pedro vão dar de comer às galinhas. O vento agita os arbustos.
Alguém os chama.
Está a fazer-se tarde e as estrelas já vão alto no céu. São quase horas de ir para a cama.
Os rapazes estão de pijama e bebem o leite.
Em casa do avô, o Samuel e o Pedro vão para a cama, mas o Pedro tem medo.
A mãe sossega-o:
— Não tenhas medo. O avô gostava muito de ti. Pensa em todos os bons momentos que viveram juntos.
Lá fora, a lua, amarela e redondinha, está pendurada no céu. O vento suave agita as cortinas. Pedacinhos de música perduram nas cabeças dos rapazes…
Adeus, avô…
Una Leavy
Goodbye Pappa
London, Orxard Books, 1999
Tradução e adaptação

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