Era uma vez uma vassoura que andava a
estudar para aspirador. Mas sem grandes resultados, deixem-me que lhes
diga.
Ela bem que se esforçava, nas aulas
de Eletricidade e, sobretudo, nas aulas de Ginástica respiratória. Inspirava…
inspirava… só inspirava, mas pouco avançava na matéria.
Da avó, uma velha vassoura fora de
uso, só ouvia palavras de desânimo:
— Cada um é para o que nasce,
rapariga.
Ela revoltava-se:
— Não me venha com lamúrias,
senhora. Vassourar toda a vida e, depois, acabar a um canto, como a avó, não
contem comigo. Eu nasci para outros voos.
Um dia, foi preciso uma vassoura para
uma peça de teatro – uma história, que metia feiticeiras, daquelas de lenço e
nariz de cavalete (de papelão, já se vê…). Eram bruxas à antiga, que cavalgavam
vassouras e voavam no palco (a fingir, já se sabe…).
Escolheram a vassoura aspirante a
aspirador.
— Vê, avó, como eu tinha razão —
disse a vassourinha. — Sempre vou mudar de vida.
Pois mudou. Voava pelos ares, como
barra de trapézio, ao som da música e no meio das gargalhadas cacarejantes das
senhoras feiticeiras da peça. Encandeada pelos projetores, fazia um figuraço.
“Se a minha avó aqui estivesse, havia
de gostar”, pensava, muito orgulhosa, a vassoura.
Era pena, mas não estava. Por sinal
que, lá em casa, tinha-se avariado o aspirador e quem, agora, fazia toda a lida
da casa era a vassoura velha.
“Se a minha neta aqui estivesse,
havia de me ajudar”, pensava, muito desconsolada, a avó vassoura.
Avó e neta acabaram por encontrar-se.
Tinha terminado a carreira da peça e já o aspirador estava arranjado.
Penduradas as duas, atrás da porta da
despensa, descansavam das emoções e trabalhos.
— Afinal, voltaste à mesma — dizia a
vassoura velha à nova.
— Não voltei nada — respondia-lhe a
neta. — Estou apenas à espera que me contratem outra vez.
— Estás tão desempregada como eu —
rematava a velha.
— Não estou nada. Agora sou uma atriz
em férias, fique sabendo.
Tem muito gênio a vassourinha.
António Torrado
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