Era uma vez uma cidade cinzenta. As casas,
as ruas, as árvores e o rio, eram cinzentos… Todo o céu que envolvia a cidade
era cinzento…
As pessoas vestiam-se com roupas em
tons de cinzento e os seus rostos eram tristes e carrancudos. Andavam sempre
agitadas, demasiado ocupadas e sem tempo para conversar, rir ou passear.
Jerónimo vivia na cidade cinzenta e,
tal como as outras crianças, sentia-se muito triste.
O Natal estava a chegar e sempre que
ele pedia aos pais para o ajudarem a escrever a carta ao Pai Natal, a resposta
era:
“Não tenho tempo. Há coisas mais
importantes em que pensar.”
Jerónimo não compreendia… O que
poderia ser mais importante do que o Natal?
Sentado no peitoril da janela e o
nariz encostado ao vidro, Jerónimo olhava o céu e observava as nuvens que
passeavam lentamente sobre a cidade.
— São tão lindas! — comentava o
menino, apontando para uma nuvem bem lá no alto. — Aquela parece mesmo um leão
a fazer o pino! E aquela parece… um coelho a jogar à bola! Será que há alguma
que pareça um elefante a andar de patins? — questionava com ar pensativo.
De repente, um enorme elefante
apareceu esculpido nas nuvens!
Jerónimo olhava fascinado. Seria
possível? As nuvens estariam a convidá-lo para brincar?
Decidiu aceitar o desafio e embarcar
naquele jogo maravilhoso… desconhecendo que eram as artes mágicas de Ariela que
modelavam as nuvens ao sabor dos seus pedidos.
Ariela era uma pequena fada muito
bonita, de asas transparentes, que voava graciosamente entre o céu e a terra.
Era muito alegre e amava a natureza
com toda a sua beleza e cor. Por essa razão, ficou muito curiosa quando soube
da existência daquela cidade cinzenta. Porque teria perdido a cor? Como seriam
os seus habitantes? As crianças seriam felizes?
Ariela voava sobre a cidade, tentando
encontrar uma explicação para aquele estranho lugar, quando ouviu as palavras
de Jerónimo. Para o alegrar, resolveu brincar com ele, modelando as nuvens
fofas que embelezavam o céu.
A pequena fada olhava, com ternura,
para o rosto do pequeno Jerónimo e pensava no que poderia fazer para tornar
especial o Natal das crianças daquela cidade cinzenta.
Então Ariela começou a assobiar. De
imediato, ouviram-se vários assobios em uníssono que se confundiram com o sopro
do vento.
Milhares de pequenas fadas,
transformadas em pontos de luz, espalharam-se por todas as casas da cidade.
Os adultos, sempre ocupados, nada
viram.
De repente, ao ritmo do assobio do
vento, os mesmos pontos de luz desapareceram no céu.
Ariela sorriu. As fadas conheciam os
desejos de todos os meninos da cidade cinzenta e iriam transmiti-los ao Pai
Natal. As crianças não ficariam sem presentes!
E os adultos? Como poderia ajudá-los?
Eles tinham-se esquecido da cor… da sua essência, da sua beleza, da sua alegria,
da sua magia.
Sem cor a vida é triste e vazia.
Ariela pensou, pensou… e sorriu.
Depois, bateu as suas delicadas asas transparentes e voou, ligeira, até ao céu.
Era véspera de Natal. Jerónimo
acordou, abriu a janela do seu quarto e ficou maravilhado. Estava a nevar. Mas
não era uma neve qualquer! Flocos de todas as cores desciam lentamente do céu
azul, transformando toda a cidade cinzenta numa paleta colorida.
Jerónimo viu o verde nas árvores, o
prateado na água do rio, o amarelo nas flores, as cores do arco-íris nas casas,
o dourado nos enfeites de Natal…
Aos poucos, as ruas foram-se enchendo
de pessoas de todas as idades que vestiam roupas de todas as cores e que
conversavam, corriam, saltavam, brincavam e riam. E a neve ia caindo em flocos
leves e coloridos…
Lá no alto, sentadas nas nuvens,
Ariela e as outras pequenas fadas moldavam os flocos de neve, pincelando-os
delicadamente com as tintas do poder da fantasia e lançando-os no ar com um
sopro suave.
De vez em quando, atiravam pequenos
flocos umas às outras numa brincadeira alegre e divertida.
Ariela viu o pequeno Jerónimo e os
seus pais fazerem um enorme boneco de neve azul com olhos verdes, boca
vermelha, chapéu preto, nariz cor-de-laranja… Davam abraços e soltavam
gargalhadas!
A fada viu, ainda, as pessoas a
entoarem cânticos natalícios… e a desejarem umas às outras um “Feliz Natal”!
A cor voltou aos corações! — pensou
Ariela.
De repente, olhou o horizonte e
sorriu. O seu ouvido apurado ouviu, lá ao longe, o tilintar dos sininhos do
trenó do Pai Natal!
Alice Cardoso
Natal nas Asas do Arco-Íris
Edições Nova Gaia,
Natal nas Asas do Arco-Íris
Edições Nova Gaia,
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