Era
uma vez um menino muito curioso. Desde pequeno, quando via uma coisa que não
conhecia, logo perguntava:
—
O que é isso?
—
Um livro — dizia o pai.
—
O que é isso? — perguntava em seguida, mostrando outro livro um pouquinho
diferente.
—
Também um livro — dizia a mãe.
Depois
o menino cresceu. Mas não deixou de ser curioso. Gostava de xeretar as coisas
do pai. Um dia desmontou uma caneta-tinteiro só pra ver como funcionava. Nem
preciso dizer que se borrou todo de tinta. Então, foi a vez da máquina de
escrever. O pai chegou do serviço e encontrou um monte de molas e parafusos
sobre a mesa.
—
Estou consertando pra você, papai.
O
menino recebeu a maior bronca e perdeu a mania
de
consertar as coisas. Mas não deixou de ser curioso. Vivia perguntando por que
isso, por que aquilo.
—
Ora, as plantas crescem porque são alimentadas pela terra — dizia a mãe.
—
Por que não há rosas azuis? Bem... — dizia o pai, pensando — bem... não há
rosas azuis porque, porque... ora, filho, me deixa ler o jornal.
Quando
o menino fez dez anos, o pai lhe deu um laboratório de química de presente. O
menino esqueceu o autorama do Natal, a bola de futebol e não largava o
laboratório de química. Leu o manual de fio a pavio. A mãe ficou maravilhada
quando ele transformou água em vinho. O pai saiu correndo da sala quando ele
fez um perfume fedidíssimo. Mas as experiências do manual eram muito chatas. O
menino pensou, pensou, e resolveu fazer as maiores experiências do mundo. Pôs
um pouco de azul de metileno numa seringa e tentou mudar a cor das rosas do
jardim. No outro dia, de manhãzinha, levantou correndo e foi ver o resultado da
experiência. As rosas estavam mais mortas do que vivas. A mãe ficou uma arara,
mas sorte que ela não viu quem tinha feito aquela arte.
Com
o vestido novo da mãe foi diferente. Ela vivia se queixando de que não
conseguia tirar uma mancha horrível do vestido. O menino não teve dúvida:
inventou um tira-manchas infalível. É claro, a mancha saiu, só que com um
pedaço do vestido junto. Essa experiência o menino não teve jeito de esconder,
porque a mãe sentiu o cheiro do produto químico. O pai cortou o cinema dele por
um mês, além de confiscar o laboratório de química.
Mas
o menino não deixou de ser curioso. E ficou mais curioso ainda, quando, um dia,
xeretando na estante do pai, encontrou um livro muito bacana. Era O homem
invisível, de H. G. Wells.
O menino leu o livro umas duas vezes. Depois, ficou imaginando como seria genial poder ficar invisível.
O menino leu o livro umas duas vezes. Depois, ficou imaginando como seria genial poder ficar invisível.
Álvaro
Cardoso Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário