Corre entre os Bijagós, da Guiné, a
lenda de que foi o Macaquinho de nariz branco quem fez a primeira viagem à Lua.
A história começou assim:
Nas proximidades de
uma aldeia, os macaquinhos de nariz branco, certo dia, de que se haviam de
lembrar? De fazer uma viagem à Lua e trazê-la para baixo, para a Terra.
Ora numa bela
manhã, depois de terem em vão tentado encontrar um caminho por onde subir, um
deles, por sinal o mais pequeno, teve uma ideia: encavalitarem-se uns nos
outros. Um agora, outro depois, a fila foi-se erguendo ao céu e um deles acabou
por tocar na Lua.
Embaixo, porém, os macacos começaram a
cansar-se e a impacientar- se. O companheiro que tocou na Lua nunca mais
conseguia entrar. As forças faltaram-lhes, ouviu-se um grito, e a coluna
desmoronou-se. Um a um, todos foram arrastados na queda e caíram no chão.
Apenas um só, só um macaquito, por sinal o mais pequeno, ficou agarrado à Lua,
que o segurou pela mão e o ajudou a subir.
A Lua olhou-o com
espanto e tão engraçadinho o achou que lhe deu de presente um tamborinho.
O Macaquinho começou a aprender a
tocar no seu tamborinho e por longos dias deixou-se ficar por ali. Mas tanto
andou, tanto passeou, tanto no tamborinho tocou, que os dias se passaram uns
atrás dos outros e o macaquinho de nariz branco começou a sentir profundas
saudades da Terra e das suas gentes. Então, foi pedir à Lua que o deixasse
voltar.
— Para que queres voltar?— Tenho
saudades da minha terra, das palmeiras, das mangueiras, das acácias, dos
coqueiros, das bananeiras.
A Lua mandou-o sentar no tamborinho,
amarrou-o com uma corda e disse-lhe:
— Macaquinho de nariz branco, vou-te
fazer descer, mas toma tento no que te digo. Não toques o tamborinho antes de
chegares lá abaixo. E quando puseres os pés na Terra, tocarás então com força
para eu ouvir e cortar a corda. E assim ficarás liberto.
O Macaquinho, muito feliz da vida, foi descendo sentado no tambor. Mas a meio
da viagem, oh!, não resistiu à tentação. E vai de leve, levezinho, de modo que
a Lua não pudesse ouvir, pôs-se a tocar o tambor tamborinho. Porém, o vento
soltando brandos rumores fazia estremecer levemente a corda. Ouviu a Lua os
sons compassados do tantã(1) e pensou:
'O Macaquinho
chegou à Terra'. E logo mandou cortar a corda.E eis o macaquinho atirado ao
espaço, caindo desamparado na ilha natal. Ia pelo caminho diante uma rapariga
cantando e meneando- -se ao ritmo de uma canção. De repente viu, com espanto, o
infeliz estendido no chão. Mas tinha os olhos muito abertos, despertos, duas
brasas produzindo luz. O tamborinho estava junto dele. E ainda pôde dizer à
rapariga que aquilo era um tambor e o entregava aos homens do seu país.
A moça, ainda não
refeita da surpresa, correu o mais velozmente que pôde a contar aos homens da
sua raça o que acabava de acontecer.Veio gente e mais gente. Espalhavam-se
archotes. Ouviam-se canções. E naquele recanto da terra africana fazia-se o
primeiro batuque(2) ao som do maravilhoso tambor.Então os homens construíram
muitos tambores e, dentro em pouco, não havia terra africana onde não houvesse
esse querido instrumento.Com ele transmitiam notícias a longas distâncias e com
ele festejavam os grandes dias da sua vida e a sua raça.
O tambor tamborinho ficou tão querido
e tão estremecido do povo africano que, em dias de tristeza ou em dias de
alegria, é ele quem melhor exprime a grandeza da sua alma."
linda historinha
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