Uma vez, o Coelho andava a passear e encontrou um grande
ajuntamento de animais sentados à sombra de uma árvore. Cheio de curiosidade,
quis logo saber do motivo daquela reunião e perguntou:
__ Então o que é que se passa? Que novidades há por
aqui?
Um dos animais explicou:
__Trata-se de um milando e estamos à espera do Elefante,
o nosso chefe, para o resolver.
__ O quê?... O quê?... O Elefante vosso chefe? -
perguntou o Coelho, franzindo a testa.
E continuou:
__ O Elefante não é chefe nenhum! O Elefante é meu
escravo e leva-me sempre às costas a qualquer parte que eu queira!
Alguns do grupo admiraram-se:
__ Como pode o Elefante ser teu escravo se tu és tão
pequeno?
__ O ser pequeno nada tem a ver com o meu valor -
replicou o Coelho.
E, em tom autoritário, acrescentou:
__ Já vos disse e torno a dizer que o Elefante não é
chefe, é meu escravo, e por isso, vocês podem ir embora daqui, que nesta coisa
de resolver milandos ele não tem nada que se meter.
Dito isto, o Coelho dirigiu os passos para sua casa e
muitos dos animais foram-se também embora dali por terem acreditado nas suas
palavras.
Algum tempo depois, chegou o Elefante e perguntou:
__ Então onde estão os outros que aqui faltam? Atrasaram-se
na viagem?
__ Não! – explicaram-lhe os poucos animais que lá tinham
ficado. — Os que aqui faltam foram-se embora há pouco tempo, porque passou
neste lugar o Coelho e disse-nos que tu, Elefante, não és chefe, mas sim, um
escravo dele.
O Elefante tremeu todo de indignação e, muito furioso,
resmungou:
__ Ah, Coelho malandro! Coelho vigarista!... Deixa lá
que, hoje mesmo, me darás conta de palavras tão injuriosas e tão vis!...
Entretanto, o Coelho chegou a casa e fingiu-se doente. A
mulher, cheia de pena, foi estender uma esteira e o Coelho deitou-se nela.
Daí a momentos chegou a Impala, que era cunhada do
Coelho, avisando-o de que o Elefante já se aproximava para lhe fazer mal. E,
transmitido o recado, retirou-se.
O Coelho, manhoso, entrou então em grandes convulsões,
soltando, ao mesmo tempo, gemidos tão lastimosos que era mesmo de partir o
coração.
Chegou o Elefante que se pôs a roncar, muito mal
disposto:
__ Ó Coelho, ó malandro, salta depressa cá para fora, que
tens de me acompanhar.
O Coelho murmurou, a gemer e entrecortando as
palavras:
__ Oh! Por... fa... vor! Des... cul... PE-me... porque
eu... não... es...tou... bom!... dói-me mui...to... o cor... po to...do! Isto
foi... um mal que me deu de re... pen... te...
__ Não quero saber! Seja como for, tens de vir comigo ao
lugar onde estão reunidos os outros animais, porque ouvi dizer que tiveste o
descaramento de enxovalhar o meu título de chefe e de dizer que eu sou teu
escravo - replicou o Elefante.
__ Tens to... da a ra... zão... mas o cer... to é que
eu... não aguen... to ca... mi... nhar... para te po... der... acom... pa...
nhar!
__ Já te disse, tens de vir comigo, custe o que custar,
mesmo que eu tenha de te levar às costas - ordenou o Elefante.
__ Então só se for desse mo... do, mas fi... ca... sa...
ben... do que mes... mo assim a via... gem me vai ser muito... pe...
no... sa.
E, logo a seguir, chamou a mulher e disse,
chorosamente:
__ Dá cá a minha ca... mi... sa nova. Hi... Hi... Hi...
Hi... vai tam... bém bus... car as minhas cal... ças no... vas.
E, depois:
__ Já a... go... ra, traz tam... bém os meus sa... pa...
tos no... vos! É que po... de a... con... te... cer que eu morra e, ao me...
nos, que... ro morrer com os meus tra... jes mais ricos.
Uma vez o Coelho vestido e calçado, o Elefante abaixou-se
e o Coelho saltou-lhe para as costas, onde se instalou muito bem
instalado.
Estava um calor de rachar pedras. Antes de partir, o
Coelho gritou para a mulher:
__ Ó mulher, dá-me cá a sombrinha porque está muito
calor... e posso agravar os meus males com alguma insolação.
O Elefante, em grandes e rápidas passadas, pôs-se a
caminho da reunião.
Quando se aproximavam do lugar, o Coelho, deixando de fingir que estava doente, ensaiou uma
atitude de pessoa importante e esboçou um sorriso feliz.
Os outros animais ao verem o Coelho assim todo solene e
bem apresentado, às costas do Elefante, começaram todos com grandes
exclamações:
__ Olha! Olha!... Sempre é verdade o que o Coelho dizia.
O Elefante é escravo dele... pois que o traz às costas.
Quando o Elefante parou, o Coelho deu um salto, muito
ágil e elegante, para o chão e, tomando a palavra, dirigiu-se assim aos outros
animais:
- Estão a ver?... Estão a ver?... Eu não vos dizia que o
Elefante é o meu escravo?
Todos os animais presentes romperam em grande gritaria,
clamando:
__É verdade, sim senhor, é verdade. Tu, Elefante, não és
chefe nenhum!... És escravo do Coelho pois o carregas às costas.
O Elefante só então deu pelo ato de estupidez que cometera e, cheio de vergonha, desandou dali
para fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário