Esta é uma história de pai e mãe.
Por que todo pai, coitado, tem que ter cara de pai, tem que usar roupa
de pai, tem que dizer frases de pai, tem que fazer tudo de pai, mesmo que
esteja com vontade de raspar a panela de brigadeiro?
E por que mãe tem que ser mãe o dia inteiro sem parar, para lá e para
cá, toc, toc, com aqueles sapatos de mãe, mesmo que esteja a fim de dar uma
cambalhota?
Ah, não!
Um dia, um pai e uma mãe resolveram fazer tudo ao contrário.
O pai fechou o jornal, a mãe abriu um sorriso e lá se foram os dois,
pulando de um pé só, tomar banho de chuva.
Dançaram que nem dois doidos na praça.
Jogaram muitas pedras nas poças.
Cataram 189 conchas na praia, sendo que 52 estavam esburacadas, 27 eram
bastante simpáticas, 18 eram bem bonitas e uma era linda de guardar!
Fizeram castelos na areia enquanto argumentavam com as ondas que esse
negócio de derrubar castelo dos outros é uma falta de educação bem molhada.
Comeram rosquinhas e estouraram os sacos.
Contaram os carros que passavam: 876, 877, 879 e perderam a conta.
Discordaram do Sol quando ele começou a se esconder do dia. Em seguida,
porém, concordaram que azul-escuro pode ser tão bonito quanto azul-celeste,
ainda mais quando aparece uma Lua no meio.
Procuraram, em vão, discos voadores e estrelas cadentes. Só viram mesmo
uma andorinha, a quem fizeram um pedido, mas era segredo.
Acharam graça de tudo.
Acharam graça de nada.
Perderam a hora.
Voltaram caminhando só pelos desenhos pretos da calçada.
Apostaram corrida até a esquina e ela ganhou (ou talvez ele tenha
deixado que ela ganhasse).
Chegaram em casa felizes, suados, sujos e cansados. Para espanto dos
três filhos, que estavam esperando na janela e que logo perguntaram: Vocês
podem explicar o que aconteceu???
Como eles não sabiam explicar, pediram uma licencinha e foram para a
cozinha comer cachorro-quente, com muita mostarda, maionese e ketchup.
Fizeram uma bagunça danada na cozinha e nem limparam ...
É do livro Sete histórias
para contar, de Adriana Falcão
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