A raposa estava faminta, há dias que não conseguia caçar nada além de um camundongo ou outro. Resolveu sair da mata e chegou a um sítio onde avistou uma galinha solitária tomando sol. Como estava debilitada pela fome achou melhor poupar energia e tentar passar a conversa na galinha.
Chegou tão sorrateira que a galinha só percebeu sua presença a poucos metros de si. Antes que a presa recuperasse o fôlego, a raposa começou com a lábia:
- Olá! Estou perdida. Preciso chegar à cidade, mas acho que errei o caminho. Poderia me ajudar?
Ainda encolhida pelo medo, a galinha, olhando para os lados procurando uma rota de fuga, disse:
- Có! Você tem que pegar a estrada depois do riacho – disse, dando um passo atrás.
- Não conheço o riacho, você poderia me acompanhar até lá? – argumentou a raposa, avançando um passo – Aliás, poderíamos ir conversando, adoraria ter companhia de uma ave tão simpática, tão bonita...
- NÃO! Digo... Sinto muito, mas não posso sair daqui. A não ser... A não ser que o galo me autorize, ou melhor, talvez ele possa te acompanhar...
O galo ouviu de longe as vozes, estufou o peito e foi ver com quem a galinha estava conversando. Ao ver a raposa sua coragem desabou, abaixou a crista e encolheu-se na primeira moita que encontrou.
Enquanto a raposa insistia na conversa, aguardando o momento para dar o bote, os pintinhos se aproximaram procurando a mãe e imediatamente o galo os encolheu sob suas asas.
A galinha pensou em gritar para que o cachorro pudesse socorrê-la, mas ela o odiava, o considerava muito chato e sempre o desprezou. Tinha que sair dessa sozinha.
A raposa julgando já estar próxima o bastante arriscou mais uma frase:
- Vamos lá, me leve até a estrada, nós vamos conversando um pouco e você volta rapidinho. O galo nem vai perceber...
Mal terminando suas palavras, a raposa armou o bote. O galo se levantou assustado, a galinha deu um impulso, bateu suas asas em desespero em direção à moita e acertou o galo no peito. Foi um cocoricó tremendo. Penas e mais penas voaram. Correu galinha para um lado, galo para o outro, pinto pra cima, pinto pra baixo, foi pinto pra todo lado.
A raposa saltou na moita, mas era tanta pena voando que nada enxergou. Se já estava fraca, agora com a boca cheia de penas, tossiu tanto que ficou sem ar. Essa muvuca toda chamou a atenção do cachorro que veio em disparada, pôs a raposa para correr, mas só conseguiu dar uma mordida na cauda da caçadora. Cansada, envergonhada e com o rabo ardendo, voltou para a mata para mais um dia em jejum.
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