Era uma vez um menino que morava em uma cidade cercada por um grande
muro.
O quinto filho de uma família humilde. Por ser um menino franzino e
mirrado, era chamado carinhosamente de Pitico. Sua casa ficava próxima à
muralha que cercava a cidade.
Todas as tardes, quando chegava da escola, Pitico ia para o quintal
brincar; sentava à sombra da figueira, de frente pra o paredão do muro e ficava
imaginando como seria do outro lado... O muro era tão alto que poucas pessoas
sabiam o que havia lá. E Pitico sonhava um dia descobrir o que havia ali
atrás. Pitico ouviu dizer que os livros davam asas às crianças. Mas ele
não tinha livros, nem dinheiro para comprar. Decidido, começou a perguntar aos
vizinhos como faria para encontrar livros. Até que u, dia, um senhor de cabelos
brancos e barba comprida disse que, próximo à praça, no centro da cidade, tinha
uma biblioteca. E que lá Pitico poderia encontrar muitos livros, e não
precisar pagar para lê-los.
Pitico foi até a biblioteca e ficou encantado com a quantidade de livros
que viu. Eram muitos. Retirou o primeiro e leu ali mesmo; no caminho de volta
para casa passou por uma pedreira, quando decidiu pegar uma pedra e levar
consigo. Chegou em casa, foi até o quintal, colocou-a ao pé do muro, subiu na
pedra para ver o outro lado. Mas apenas uma pedrinha não ajudou muito.
Todos os dias, ao voltar da escola, Pitico passava na biblioteca e
retirava um novo livro. E, para cada livro que lia, recolhia uma pedra e
colocava ao é do muro do seu quintal.
Quando ele chegava da escola, o Sol já estava se pondo e a sombra do
muro anoitecia o quintal. O menino começou a perceber que, a cada nova pedra
que colocava e subia, o Sol demorava mais para se por...
Após muitos dias, muitos livros e muitas histórias, Pitico chegou com
uma enorme pedra – havia lido um grande livro. Com dificuldade, escalou a pilha
de pedras e colocou a pesada pedra no cume.
Lentamente levantou a cabeça e, finalmente, visualizou por cima do muro.
Seu rosto foi se iluminando, os olhos brilharam, uma leve brisa acariciou seus
cabelos.
O menino sorriu. Quando Pitico chegou em casa, o Sol estava se pondo.
Porém, olhando lá de cima de sua montanha, o Sol ainda estava alto, iluminando
a tarde. O horizonte azul do céu beijava a terra, muito distante. Os pássaros
revoavam o vale florido, que se estendia até às margens do rio. O rio, com suas
águas deslizando lentamente, banhava as raízes das árvores do bosque.
Encantado com o que viu, Pitico ficou de pé sobre o muro, abriu os braços
e... “voou”. “Revoou” sobre as árvores, sobre a planície, deu um rasante sobre
o rio e voltou para casa.
Naquela noite, o menino dormiu mais feliz. E sonhou muito. Sonhou que
voava sobre a cidade. Lá do alto, ela via as pessoas caminhando nas ruas, nas
praças, via as crianças brincarem nos quintais. Lá de cima, as pessoas eram tão
pequenas, pareciam formigas. O mais incrível é que as formigas estavam tão
grandes quanto os homens.
Quando acordou, Pitico continuou sonhando. Voando, sonhando e voando...
Coisas de menino...
João
Luiz do Couto
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