A menina sentia uma dor azul todos os dias, ali pelas cinco horas da
tarde. Não era uma dor grandona, de puxar o choro para fora. Era só uma dorzinha.
Mas era uma bem azulona. Achavam que era maluquice. “Dor não tem
cor!”
Mas como a dor azul não passava, começaram a achar que ela doía mesmo.
Levaram a menina para todos os médicos do mundo, fizeram todos os exames que
existiam, e ninguém descobriu o que era aquilo. Procuraram então um psicólogo
e, é claro, que ele achou que aquilo era psicológico. A dor azul não queria
saber. Ia e vinha. Sempre na mesma hora.
Os anos foram passando e o azul da dor continuava colorindo as tardes da
menina. Só as tardes. De manhã, ela sentia uma saudade lilás. E, à noite, um
desejo prata que ela não sabia bem de quê.
A menina cresceu. E um dia conheceu um rapaz que sentia uma vontade
violeta de espirrar nas manhãs nubladas. Eles se gostaram, um gostar laranja
que foi se avermelhando sem parar, até que se casaram, numa noite dourada de
alegria, cheia de luzinhas roxas de paixão.
Um ano depois, numa madrugada de cheiros cor-de-rosa, ela teve uma
filhinha. E nunca ela tinha sentido um carinho tão verde em toda sua vida.
A filha da menina cresceu, herdou a vontade violeta de espirrar do pai
e, da mãe, o desejo prateado. E a menina, que já era mulher, descobriu que o
nome da dor azul, como está do dicionário, é desassossego. E que esse
desassossego queria dizer, mais ou menos, em palavras de adultos “Como será que
vai ser a minha vida?”. Puro desassossego...
Adriana
Falcão
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