Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não
sabia o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não
passavam naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe
compraria rapadura ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha
mãe me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás da
casa.
Eu estimei o presente mais do que
fosse uma rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele
gostava do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do
meu irmão ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe
fizera ao meu irmão. E achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas
margens do meu rio
E de noite iriam dormir na árvore do
meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: minha
árvore deu flores lindas em setembro. E o seu rio não dá flores! E eu respondia
que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia
demais eram os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!
Manoel de Barros
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