A grande corrida








  O que fazem aqui estes rapazes? Estão à espera do início da grande corrida. Todos vestem calções e têm camisolas com números.

   Está a ver o rapaz com o número 15 na camisola? Chama-se Tiago. Os rapazes são todos altos e fortes, mas o Tiago é pequeno e franzino. Por isso, dizem-lhe:

   — Não pode competir conosco. Nós somos altos e fortes, temos pernas compridas, e tu é pequeno e franzino, e tem pernas curtas. Nós conseguimos correr depressa, mas tu não consegue correr depressa. Como corre devagar, é melhor ficar sentado a  nos observar.

   — Isso não é verdade — diz o Tiago. — Sou pequeno, mas consigo correr. Embora corra devagar, consigo correr na mesma.

   Os rapazes observam o homem de chapéu branco, que segura uma bandeira preta e branca, e que está a olhar para o relógio que tem no pulso. De repente, o homem baixa a bandeira, sopra o apito e a corrida começa.

   Há muitos rapazes a participar na corrida. Os rapazes empurram o Tiago e ele cai. Alguns dos rapazes até passam por cima dele! A corrida passa para a estrada, onde há camiões e carros, pessoas e bicicletas. Como se trata de um lugar perigoso, alguns dos concorrentes estão à espera de atravessar.

   Consegue ver o Tiago? Está no fundo da fila, atrás de todos os outros.


   Os rapazes atravessam a estrada e o Número 1 vai à frente. Um homem de bicicleta vai de encontro a ele e deita-o ao chão. Agora, o Número 1 está sentado na beira da estrada a segurar o tornozelo e, em vez de sorrir, está a chorar, porque já não pode correr mais. O Número 2 toma a dianteira.

   Consegue ver o Tiago? Está no fim da fila. Os rapazes correm ao longo de um caminho que acompanha o rio. O Número 2 vai à frente, mas está demasiado perto do rio. O Número 3 corre para junto do Número 2 e estica o braço para o empurrar! O Número 2 cai ao rio e, embora consiga nadar, já não pode correr mais.

   Agora, o Número 3 vai à frente. Os outros corredores seguem-no, mas alguns dos rapazes já estão cansados. Consegue ver o Tiago? Vem lá atrás, bem atrás de todos os outros corredores. Mas, embora corra devagar, continua a correr. De repente, o Número 3 para, senta-se e descalça a sapatilha. A sapatilha tem um prego e o rapaz tem de tirar a meia e pôr um penso no pé. Não pode continuar a correr. Por isso, os Números 4 e 5 passam para a frente do pelotão. Como correm muito depressa, não conseguimos ver os outros corredores, e nem sequer conseguimos ver o Tiago.

   Há nuvens negras no céu e os rapazes estão a olhar para elas. De repente, começa a chover muito. Os dois corredores da frente abrigam-se debaixo de uma árvore e deixam de ver os outros corredores. O Número 6 passa para a frente e o Tiago continua atrás de todos. Mas, embora corra devagar, continua a correr. De repente, aparece um cão com uma grande boca e dentes muito afiados, e o Número 6 tem de trepar a uma árvore e segurar-se com força. O cão salta e tenta mordê-lo. Para o Número 6, a corrida acaba aqui.

   Agora, o Número 7 vai na vanguarda e todos o seguem. Quanto ao Tiago, continua no fim da fila. O Número 7 usa óculos, que estão a escorregar-lhe pelo nariz e que acabam por cair na relva. O rapaz para para procurar os óculos, porque deixou de ver. Está sentado na relva, mas os outros rapazes correm muito depressa e não dão sinais de abrandar.

   Como o Tiago não corre depressa, detém-se para procurar os óculos do Número 7. Quando os encontra, entrega-lhos.

   — Toma os teus óculos — diz o Tiago.

   — Obrigado — agradece o Número 7, que coloca os óculos.

   Contudo, continua sem conseguir ver e tem de abandonar a corrida. Agora, o Número 8 vai à frente e os outros corredores vão atrás. Não se consegue ver o Tiago. O Número 8 chega junto de um portão e, em vez de o abrir, tenta saltá-lo. Só que, ao saltar, bate com o pé direito no cimo da grade. Neste momento, o Número 8 está sentado no chão, e tem a cabeça entre as mãos. Os outros rapazes abrem o portão e passam pelo Número 8 sem se deter para o ajudar. O Tiago aparece quando um dos rapazes está prestes a fechar o portão.

   — Olá! — diz ele ao Número 8. — O que está a fazer?

   — Dói-me a cabeça! — queixa-se o rapaz.

   O Tiago ajuda-o. Dá-lhe uma ligadura e o Número 8 coloca-a na cabeça. O Número 8 não pode correr mais. O Tiago continua a correr. Está cansado, tem as pernas curtas, mas continua a correr. O Número 9 vai na frente, mas não conseguimos ver os outros rapazes. O Número 9 está muito cansado e tem calor. Para, compra um gelado e uma garrafa de Coca-Cola. Senta-se debaixo de uma árvore e põe-se a saboreá-los. Como está cansado e afogueado, acaba por adormecer. Os outros corredores passam junto dele e riem-se.

   — Vejam só! O Número 9 adormeceu! Não o acordem!

   E continuam a correr. O Tiago chega junto do rapaz e, em vez de rir, tenta acordá-lo:

   — Acorda! Lembre-se de que está numa corrida!

   — Não! — responde o Número 9. — Estou cansado e tenho calor. Não consigo correr mais.

   O Número 10 tomou a dianteira, mas também ele está cansado e afogueado. Não se conseguem ver os outros corredores. Quando um auto carro para na rua, para deixar entrar passageiros, o Número 10 entra no auto carro. O auto carro arranca e o rapaz senta-se e compra um bilhete.

   — Como ninguém me vê — diz, a sorrir — posso ir aqui sentado. Assim, já não tenho calor nem me sinto cansado.

   Mas o auto carro vai no sentido inverso do percurso da corrida e o Número 10 deixa de sorrir, porque acabou de ser eliminado. Veem-se mais três corredores. Todos estão cansados e com calor. Contudo, correm depressa. De repente, deixam de ver as indicações e tomam um trilho diferente. Também eles ficam fora da corrida. Lá vem o Número 14. Tem calor e está cansado, mas corre depressa.

   — Sou o primeiro — diz, contente. — Estão todos fora da corrida e o Tiago não consegue apanhar-me.

   A sorrir, atravessa a rua, embora a luz do semáforo dos peões tenha ficado vermelha. Um polícia que está do outro lado da rua manda-o parar.

   — Não vê o sinal vermelho? — pergunta ao Número 14.

   Depois, tira um livro do bolso e pergunta-lhe:

   — Como se chama? Onde vive?

   E eis que chega o Tiago. Como a luz do semáforo dos peões está verde, pode atravessar a rua. O Tiago passa pelo polícia e pelo Número 14 e chega em primeiro lugar! Apesar de ser pequeno e franzino, e de não conseguir correr depressa, chega em primeiro lugar! Na meta, todos o aplaudem:

   — Bravo, Tiago! É o vencedor!

   O Tiago sorri de contente.

D. H. Howe
The big race
Oxford, Oxford University Press, 2001
(Tradução e adaptação)

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