O galo Careca






O galo Careca, de madrugada,
Ficava cantando desafinado,
Em cima do galho da goiabada,
E batia as asas desengonçado.

Diziam que ele era de marmelada.
Subia o puleiro sempre empinado,
Mas sua dona estava zangada.
Dizia que ele iria ser assado.

- Coitado dele! -dizia a galinha.
O porco rolava de gargalhada
E o gato voltava lá da cozinha
Dizendo que a faca foi amolada.

O galo dizia não ser culpado,
Ele gostaria de ser cantor.
Ele não queria ser cozinhado
E ficava implorando "Por favor!"

- Esconda-me seu pato, por favor!
E o pato respondia: - Não senhor!
- Ajude-me seu pato a escapar.
E o pato respondia: - Nem pensar!

- Então senhor carneiro, posso entrar?
- No meu aprisco não dá pra ficar.
- Senhor carneiro o que eu vou fazer?
- Procure outro sítio pra viver.

- Será que o cavalo vai me ajudar...?
- Acho difícil isso acontecer
Ele será  o primeiro a mostrar
O lugar onde tu vais te esconder.

O galo estava mesmo encrencado.
Já não dormia de tão preocupado
E decidiu, p'ra acabar com o espanto,
Que, finalmente, ia ter aula de canto.

Macucos, canários e o sabiá
Tentaram ensinar o galo cantar
Papa-capim, curió e piu-piu
Cada um tentou, mas não conseguiu.

Até que um dia o galo encontrou
O papagaio que então lhe ensinou
Como cantar e afinar o gó-gó
P'ra melhorar o seu cocoricó.

O galo voltou para o seu puleiro
Jurou que não iria mais cantar,
Mas antes de voltar de vez, primeiro
Com todos, teve de se desculpar.

O galo queria fazer surpresa
Mas tinha muito ainda que esperar.
Ele sabia que ia ser dureza
Era só esperar o sol raiar.

E o galo cantou no sol nascente
Ergueu-se do galho da goiabeira
surpreendeu a toda gente e....
Saiu a cantar sem êra-nem-beira.

Luis Carlos Wolfgang

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