Meu pai montava a
cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava
sentada cosendo.
Meu irmão pequeno
dormia.
Eu sozinho menino
entre mangueiras
Lia a história de Robinson Crusoé,
Comprida história que
não acaba mais.
No meio-dia branco de
luz uma voz que aprendeu
A ninar nos longes da
senzala — e nunca se esqueceu
Chamava para o café.
Café preto que nem a
preta velha
Café gostoso
Café bom.
Minha mãe ficava
sentada cosendo
Olhando para mim:
— Psiu… não acorde o
menino.
Para o berço onde
pousou um mosquito.
E dava um suspiro… que
fundo!
Lá longe meu pai
campeava
No mato sem fim da
fazenda.
E eu não sabia que
minha história
Era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Carlos Drummond de Andrade
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