Borboletina, a fada das meninas








Lili era uma linda boneca que vivia numa vila de Bonecolândia, um país do Planeta Imaginação. Ela morava numa casinha simples, cercada por um jardim bem cuidado onde sua mãe plantava rosas, margaridas e violetas. 
As borboletas eram presenças constantes no jardim. Pretas, brancas, amarelas, azuis, elas davam um toque de sonho fantástico ao jardim da casa de Lili. A boneca era obediente, ajudava sua mãe nas tarefas domésticas e, quando terminava, ela ia ajudar seu pai a envernizar os tamancos que ele fabricava. Ela era feliz, mas muito solitária. Não tinha amiguinhos porque morava muito longe da vila.

Às vezes ela acompanhava o pai quando ele ia vender a sua produção de tamancos. Via as outras bonecas e bonecos brincando na rua, mas nunca chegava perto para participar das brincadeiras. Assim era a sua vida.
Um dia, depois do jantar, o pai e a mãe de Lili se puseram a observar a filha brincando com os bichinhos feitos com a sobra da madeira dos tamancos.

- Nossa filha é tão linda! – falou o pai orgulhoso.
- É mesmo. Pena que seja tão sozinha! – suspirou a mãe.
- Quanto a isso não podemos fazer nada. A venda dos tamancos rende pouco e por isso não podemos morar na vila. – concluiu o pai com tristeza.

Numa noite, em que o céu estava cheio de estrelas e a lua cheia sorria para o mundo, Lili sentou-se na cadeirinha de balanço, que o pai fez para ela, pegou seus brinquedos de madeira e, dentre eles, escolheu a borboleta que ela mais gostava. Ficou olhando para ela dizendo:
- Pena que não pode falar, não pode voar, nem pode brincar! – deu um longo suspiro. Balançou a cadeira e ouviu o que lhe parecia uma voz:

- “Li...li, boneca linda, tu serás muito feliz.”  - Ela imaginou que fosse a voz do vento batendo nas folhas, mas no dia seguinte, a mesma hora, ela ouviu novamente a voz repetindo as mesmas palavras. Lili ficou assustada, contou para os pais. Imediatamente o pai retirou a cadeira da varanda, colocando-a dentro da casa em frente a janela. No outro dia a boneca, no mesmo horário, sentou-se na cadeira. Pronto! Lá estava a voz dizendo a mesma coisa:
- “Li...li, boneca linda, tu serás muito feliz.” – Só que desta vez a boneca viu, pairando no ar, um ser parecido com a borboleta de madeira que ela gostava tanto. O ser, batendo as asas, falou:

- Não tenha medo bonequinha! Eu sou Borboletina, a fada que atende às meninas.
- E o que você quer? Sabe que me assustou muito?
- Desculpe, minha querida, eu não sou de assustar ninguém. – disse sorrindo a fada das meninas.
- É verdade. Você é uma borboleta diferente. Tem uma carinha de boneca, um corpo igual ao meu, a diferença são estas asas azuis transparentes nas suas costas. Você é muito bonita!

Sorrindo a fadinha puxou de uma das asas uma varinha que tinha uma estrela na ponta e perguntou para Lili qual era o seu maior desejo.
- O meu maior desejo é ter uma amiguinha para eu brincar com ela. – respondeu.
A fada bateu com a ponta da varinha numa pedra e a transformou numa bola de cristal. Pegou a bola, passou a mão sobre ela, disse algumas palavras e a depositou no colo da boneca dizendo:

- Este é meu presente. Com esta bola você terá seus desejos satisfeitos. É só pensar e passar a mão que a bola a levará aonde quiser. Para voltar é a mesma coisa. Passe a mão e pense na sua casa em Bonecolândia.

A fada das meninas desapareceu num rastro de estrelas faiscantes deixando a boneca com a bola na mão.  Lili guardou o presente e foi dormir.  No dia seguinte ela fez todo o seu trabalho da casa, ajudou o pai com os tamancos e quando chegou a noite ela foi sentar no mesmo lugar levando a bola. Enquanto os pais conversavam no quarto, ela passou a mão sobre a bola e pensou:
- Quero ir para um lugar diferente para encontrar uma amiga.

Zaz! A bola se iluminou e Lili sumiu indo parar numa casa muito grande. Para ela era como se fosse a casa de um gigante. Ela sabia que não estava na sua terra. Começou a caminhar pela casa olhando os móveis tão diferentes e tão grandes. Viu uma cama e pensou no tamanho da boneca que dormia nela. Chegou a uma porta que se abria para um quintal imenso e perguntou:

- Tem alguém aí?
E uma voz, sua conhecida, respondeu:
- Venha Lili, venha!
Ela foi em frente e sob um caramanchão de primaveras estava a fada Borboletina segurando pela mão uma criança. Ela apresentou a menina.

- Lili, esta é a Mariazinha uma menina de carne e osso que deseja ter como amiga uma boneca e ande e fale. Mariazinha, esta é Lili, a boneca que anda e fala e deseja ter uma amiga.
As duas se abraçaram. Passaram um bom tempo brincando. Lili tirou do bolso do seu vestido a borboleta que mais gostava e a deu de presente para Mariazinha e recebeu dela um lindo colar para o seu pescoço. Já estava na hora de ir embora e Borboletina disse para Lili:

- De agora em diante você e Mariazinha serão amigas. Mas é preciso contar aos seus pais para que possa vir a este lugar, que se chama Terra, e brincar o tempo que quiser.
Lili contou. Os pais não queriam consentir porque não conheciam a tal de Terra. Como poderiam deixar sua filha querida ir para um lugar desconhecido? Não isso eles não fariam. Foi preciso a interferência de Borboletina que deixou com eles uma outra bola de cristal por onde eles monitorariam a boneca e a avisariam da hora de voltar.
Por muito tempo a boneca e a menina foram amigas. Mas a menina cresceu e já não queria mais brincar com ela. Lili aprendeu a conhecer os humanos e a viajar pela Terra, e quando uma amiga crescia e não a queria mais ela procurava outra.  E como nunca mais ficou sem amiga foi feliz para sempre.


Maria Hilda de Jesus Alão

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