O LEÃO DOENTE





Um leão vivia perseguindo uma gazela, mas ela sempre escapava das garras do espertalhão. Cansado e humilhado, resolveu mudar de tática para pegar a gazelinha. Passou a se fingir de muito doente. Ficava estirado no chão, perto de um pedaço de carne, toda vez que avistava a gazela pastando despreocupada. Então ele mudava a voz e pedia com rouquidão:
- Minha linda e doce gazela, este pobre leão, velho e muito doente, pede-lhe que ponha este pedaço de carne aqui na minha boca, porque não tenho forças pra me levantar.
E escancarava a bocarra cheia de dentes, assustando a gazela que, em disparada, dizia:
- Hoje não dá. Amanhã, talvez...
O leão ficava furioso. Como podia aquele animalzinho ser mais esperto que ele. Isso ele não admitia. A estratégia não estava funcionando. E passou a espalhar pela selva que aquela tenra gazela não escaparia dele. Ele a pegaria de um jeito ou de outro.
Essa notícia chegou aos ouvidos dos pais da gazelinha. Ficaram preocupados, pois sua filhinha estava na mira do leão. Era preciso fazer alguma coisa para dar uma lição no bicho malandro. E combinaram com a filha:
- Quando o leão pedir que você lhe dê a carne que está pertinho dele, você oferecerá este pernil de búfalo que preparamos para ele. Dirá que só pegará a carne depois de ele comer o pernil.
E lá se foi a gazela seguindo as ordens dos pais. O leão a avistou. Fez a encenação de sempre e ficou admirado com a resposta da gazela.
- Sr. Leão, por ter muita pena do senhor, vou atendê-lo, mas antes quero que experimente este maravilhoso pernil feito pela minha mãe.
O leão ficou feliz. Finalmente ele estava prestes a conseguir o seu intento. Disfarçadamente, ele puxou o pedaço de carne para mais perto e disse:
- Aproxime-se, minha jovem!
- Não, o pernil eu jogarei entre as suas patas e o senhor o pegará. Depois de comê-lo eu colocarei este pedaço de carne na sua boca conforme o seu desejo.
E jogou o pernil. O leão abocanhou, mordeu e começou a rugir desesperado. O pernil estava tão duro que parecia feito de pedra. Enquanto cuspia, o leão dizia:
- Gazelinha esperta. Quase quebrei os dentes...
  Uma coruja, que a tudo assistira, disse-lhe:
- Não se deve menosprezar a inteligência dos outros. Você, com toda a estratégia e todos esses dias de vigília, não conseguiu pegar a gazela, mas ela, na primeira tentativa, colocou-o fora de combate. Força bruta não é sinal de inteligência.


Maria Hilda de Jesus Alão

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