Lenda africana
Era uma vez um sapinho que encontrou um bicho comprido, fino,
brilhante e colorido deitado no caminho.
-- Alô! Que é que você está fazendo estirada na estrada?
-- Estou me esquentando aqui no sol. Sou uma cobrinha, e você?
-- Um sapo. Vamos brincar?
E eles brincaram a manhã toda no mato.
-- Vou ensinar você a pular.
E eles pularam a tarde toda pela estrada.
-- Vou ensinar você a subir na árvore se enroscando e deslizando pelo
tronco.
E eles subiram.
Ficaram com fome e foram embora, cada um para sua casa, prometendo
se encontrar no dia seguinte.
-- Obrigada por me ensinar a pular.
-- Obrigado por me ensinar a subir na árvore.
Em casa, o sapinho mostrou à mãe que sabia rastejar.
-- Quem ensinou isso para você?
-- A cobra, minha amiga.
-- Você não sabe que a família Cobra não é gente boa? Eles têm veneno.
Você está proibido de brincar com cobras. E também de rastejar por aí.
Não fica bem.
Em casa, a cobrinha mostrou à mãe que sabia pular.
-- Quem ensinou isso para você?
-- O sapo, meu amigo.
-- Que besteira! Você não sabe que a gente nunca se deu com a família
Sapo? Da próxima vez, agarre o sapo e... bom apetite! E pare de pular.
Nós cobras não fazemos isso.
No dia seguinte, cada um ficou na sua.
-- Acho que não posso rastejar com você hoje.
A cobrinha olhou, lembrou do conselho da mãe e pensou: "Se ele chegar
perto, eu pulo e devoro ele".
Mas lembrou-se da alegria da véspera e dos pulos que aprendeu com
o sapinho. Suspirou e deslizou para o mato.
Daquele dia em diante, o sapinho e a cobrinha não brincaram mais
juntos. Mas ficavam sempre no sol, pensando no único dia em que
foram amigos.
(Em: *O livro das virtudes*. Uma antologia de William J. Bennett.
Rio de Janeiro, Nova Fronteira.)
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