O Urubu Vaidoso






                                                                 
      O Urubu julgava-se superior ás outras aves, só porque podia voar muito alto. Por isso, desprezava-as e não desejava mesmo tê-las como amigas.
       Era uma tarde de verão. O Urubu achava-se pousando no galho de uma árvore, quando ali pousou, também o sabiá.
       Ao vê-lo, disse-lhe o pássaro cantador.
       - Boa tarde, amigo!
       - Alto lá! Amigo? Não! Fique sabendo de uma coisa: não me agrada a amizade com criaturas de voo rasteiro. O seu voo vai pouco além do cimo das árvores, enquanto o meu atinge grande altura. Posso até ir ao céu se quiser. Veja que quem voa baixo, não é da mesma espécie de quem voa alto. Não se emparelhe comigo.
       E o urubu, todo envaidecido, continuou:
        - Quer ver como alcanço o céu?
        E alcançando voo, partiu.
        O sabiá seguia-o com olhar de admiração.
         O Urubu subiu, subiu, subiu... subiu tanto que o sabiá o perdeu de vista, porque a ave negra foi além das nuvens.
         Como fosse época de grandes tempestades, o tempo mudou. Nuvens escuras surgiram no firmamento e um vento soprava, com impetuosidade, sacudindo as árvores e arrancando-lhes as folhas.
         E uma chuva pesada desabou sobre a terra. Sucediam-se os relâmpagos, e os trovões ribombavam, ecoando no espaço.
         O Urubu continuava voando acima das nuvens, sem poder descer por causa do forte aguaceiro.
         A tempestade durou muito tempo. O Urubu cansou de voar.
         Não aguentou por mais tempo, as asas  abertas. Fechou-as. Veio ele, então, lá em cima, numa decida louca, gritando:
        -  Socorro!Acudam-me!..
          O sabiá, sem se lembrar  da ofensa sofrida, correu em seu auxílio: Pôs uma porção de folhas no chão, impedindo que o vaidoso se machucasse, na queda.

Esther Pires Salgado

(Fábulas e Lendas, Rio de Janeiro, Companhia de Artes Gráficas,1955)

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