Um
monge
e seu discípulo seguiam caminho pela montanha, em direção a um mosteiro onde
permaneceriam por um ano. Com a aproximação da noite, procuraram um lugar onde
pudessem pernoitar. Logo adiante avistaram uma casinha isolada, simples e
rústica, onde morava uma família muito pobre. O monge pediu à família um quarto
onde pudessem dormir e seguir viagem na manhã seguinte.
O
dono da casa, muito solícito, ofereceu um pequeno quarto disponível, mas se
desculpou por não ter cama nem nenhum tipo de conforto. Era apenas um chão
forrado de palha. O monge disse que só aquilo já estava ótimo. Na manhã
seguinte foram tomar o desjejum. À mesa havia apenas um pouco de leite, queijo
e um mingau ralo. Novamente o dono casa se desculpou por não poder oferecer uma
refeição melhor e o monge respondeu dizendo que, para eles, aquilo era um
banquete. Enquanto comiam, o monge perguntou ao dono da casa:
–
Neste lugar não há sinais de comércio ou trabalho. De onde vocês tiram seu sustento?
O
dono da casa respondeu:
–
Ah, temos aqui atrás da casa uma vaquinha milagrosa. Ela nos dá muito leite
todos os dias e, com isso, conseguimos fazer queijo, coalhada e mingau. E dessa
forma vamos sobrevivendo.
O
monge agradeceu a hospitalidade e, junto com o discípulo, seguiram viagem.
Haviam andado poucos metros quando o monge parou, deu meia-volta, contornou a
casa e soltou a vaquinha do pasto. Levou-a até o precipício e, então, atirou o
animal lá de cima. O discípulo, espantado e revoltado com o mestre, exclamou
que ele havia acabado com a única fonte de sustento da família que os
hospedaram tão gentilmente. O mestre não disse mais nada e, em silêncio,
rumaram para o mosteiro.
Passado
um ano, o monge e seu discípulo resolveram retornar à cidade e, para isso,
teriam que percorrer o mesmo caminho por onde vieram. Descendo as encostas da
montanha e com a noite se aproximando, resolveram procurar um lugar para passar
a noite. Foram, então, em direção à casinha rústica da família que os hospedara
antes. Chegando lá, viram que o lugar estava diferente. A casa da qual
lembravam não existia mais. No lugar, um belo casarão, bem pintado e decorado
despontava na paisagem, juntamente com diversas carroças e um agradável jardim.
Chamaram
pelo dono da casa e este os veio receber. Era o mesmo homem de antes, porém
estava mais bem nutrido, feliz e suas roupas não eram os trapos de antes.
Acolheu os monges com um largo sorriso e ofereceu-lhes um quarto que, desta
vez, era maior, mobiliado e com duas camas confortáveis. Pela manhã, no café,
serviram suco, frutas, pães, queijos, ovos e outras guloseimas. Enquanto
comiam, o monge perguntou ao dono da casa:
–
Neste lugar não há sinais de comércio ou trabalho. De onde vocês tiram todo seu
sustento?
O
dono da casa respondeu:
–
Ah, ocorreu uma tragédia conosco há um ano. Nossa vaquinha leiteira, única
fonte de sustento da família, se soltou do pasto e caiu no precipício. Entramos
em grande aflição e nos vimos obrigados a procurar outras formas de nos manter.
Assim, aprendemos a plantar e cultivar diversas frutas e hortaliças, começamos
a fazer produtos próprios e comercializá-los lá na cidade. Assim, graças à
perda da nossa vaquinha, hoje temos uma vida muito melhor do que antes.
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