João e o pé de feijão






Era uma vez um menino chamado João que vivia com sua mãe, uma pobre viúva, numa cabana bem longe da cidade.
Um dia, a mãe de João disse: - Joãozinho, acabou a comida e o dinheiro. Vá até a cidade e venda a nossa vaquinha, o único bem que nos resta.
João foi para a cidade e, no caminho, encontrou um homem que o convenceu a trocar a vaquinha por sementes de feijão. O homem disse:
- Com estas sementes de feijão jamais passarão fome. João acreditou e trouxe as sementes para casa. Quando a mãe de João viu as sementes, ficou furiosa. Jogou tudo pela janela.
Na manhã seguinte, João levantou com muita fome e foi até o quintal. Ficou espantado quando viu uma enorme árvore que ia até o céu. Nem chamou sua mãe. Decidiu subir pelo pé de feijão até chegar à copa.
João ficou maravilhado ao encontrar um castelo nas nuvens e quis vê-lo de perto. De repente, uma mulher enorme surgiu de dentro do castelo e o agarrou: - O que faz aqui, menino? Será o meu escravo. Mas o gigante não pode saber, por isso, vou escondê-lo. Se ele vir você, com certeza vai comê-lo.
O gigante chegou fazendo muito barulho. A mulher havia escondido João num armário. O gigante rugiu:
- Sinto cheiro de criança! E farejou em todos os cantos à procura de uma criança que estivesse escondida ali. A mulher adiantou-se e respondeu para o gigante: - Este cheiro é da comida que irei servir. Sente-se à mesa, meu senhor.
O gigante comeu o saboroso alimento. Depois, ordenou a uma galinha prisioneira que pusesse um ovo de ouro, e a uma harpa que tocasse uma bela melodia. Então, o gigante adormeceu em poucos minutos.
Vendo que a mulher havia se esquecido dele, João saiu do armário e, rapidamente, libertou a galinha e também a harpa. Mas a galinha cacarejou e a harpa fez um som estridente. Por isso, o gigante despertou.
Com a galinha debaixo do braço e a harpa na outra mão, João correu e o gigante foi atrás dele. João chegou primeiro ao tronco do pé de feijão e deslizou pelos ramos. Quando estava quase chegando ao chão, gritou para sua mãe, que o esperava: - Mamãe, vá buscar um machado, tem um gigante atrás de mim!
Com o machado, João cortou o tronco, que caiu com um estrondo. Foi o fim do gigante. E todas as manhãs, a galinha põe ovos de ouro e a harpa toca para João e sua mãe, que viveram felizes para sempre e nunca mais sentiram fome.

Trem de Ferro








Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora
Vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

Manuel Bandeira BANDEIRA, M. Estrela da Manhã, 1936.

A colheita das maçãs memórias







 Marlene B. Cerviglieri

O lugar era muito lindo mesmo. A casa grande então, merecia o nome, pois era imensa. Rodeada de roseirais e arbustos floridos. Parecia estar dentro de um jardim, com suas alamedas floridas.
Nos fundos estavam as árvores frutíferas, macieiras, pereiras, pessegueiros.Tudo no maior capricho como se fosse um tapete pintado estendido ali somente para se admirar.
Nós morávamos ali naquele fundo maravilhoso, no meio de todas estas árvores e outras bem altas formando a entrada numa extensa alameda.
Havíamos sido contratados para ajudar na colheita das maçãs.
O lugar era perfumado, cheio de pássaros, dos quais nós nunca havíamos visto antes. Nossos filhos como nós, estavam encantados com tanto espaços e árvores.
Aquilo era o paraíso. Aquele ano os pessegueiros não deram muitas flores, nos disseram. As árvores eram pequeninas, com poucas frutas.Todas estavam embaladas como balas em papel branco. Em troca desta ajuda teríamos por um ano moradia de graça. Para nós era muito bom. Meu marido como estudante não ganhava muito não.
Muito em breve iríamos colher as maçãs e as peras; esperávamos ansiosos estes dias, pois para nós seria uma nova experiência.
Nossa filha de três anos ia para a escola quase o dia inteiro, porém o de dois anos ficava comigo em casa. Meu marido também ia para a faculdade e lá permanecia o dia todo. O lugar era tão tranquilo, e eu não me preocupava, pois meu filho brincava com seus carrinhos na garagem. Fiz todo meu trabalho sempre de olho no pequeno. Ao meio dia procurei-o para tomar lanche e depois naturalmente como todos os dias iria dormir.
Para meu espanto, ele não estava na garagem, os carrinhos ali soltos, a bicicletinha...
Sai pelo pomar a procura, e nada!
Andei por tudo, onde será que se meteu este garoto?
Ele não ia até a casa grande, pois tinha medo de Collie, uma linda e meiga cachorra.
Resolvi voltar para a garagem.
Ah lá estava ele!
Onde andou meu filho?
Presto mais atenção e vejo-o com os bolsos cheios, a boca toda suja.
- Veja mamy, e me estendeu as mãos com os pêssegos.
Um frio me bateu no estômago! O que você fez?
Cortei todos os pêssegos, vamos lá o chão esta cheio...
Fui, e atônita vi o chão cheio de pêssegos, alguns até já mordidos.
Levei-o para dentro, quase não lanchou e logo dormiu, mas não antes de me ouvir pedindo que nunca mais fizesse isso. Falei das árvores e das plantas enfim para uma criança de dois anos...
Voltei ao pomar, colhi os pêssegos, os papeis voando e até os pássaros se fartando. Que fazer?
Coloquei-os numa cesta grande, e levei-os para a casa grande. Toquei a campainha, expliquei o acontecido. Só não entendia o riso nos lábios do senhor que me atendia.
- Calma minha senhora, foram apenas  pêssegos! Vi daqui da janela quando seu garotinho subia nas árvores.
Sabe, a expressão no rosto dele era de tanta alegria...
Ele não só comia, mas acariciava a fruta, falava com ela como se pedindo permissão para pega-la.
Então pensei, que nós nunca agradecemos a natureza por nos ter dado tão belas frutas, e um menininho o esta fazendo e nos ensinando...
- Leve os pêssegos, senhora, ainda teremos muitos mais.
Voltei pensando no que ouvira.
Olhei no berço e ele dormia o sono dos anjos e suas faces coradas pareciam dois pêssegos instalados a sorrir.
Agradeci a Deus de  estarmos ali naquela fartura, e mais ainda pela colheita.
             
 

A cobra e o jacaré







Era uma vez, em tempos muito distantes, uma linda floresta escondida no cantinho do mundo.
Era linda porque tinha muitas cachoeiras, riachos de águas cristalinas, clareira pro sol entrar e em cada tronco de árvore uma florzinha pra ornamentar.
Mas a floresta não era só linda, era encantada também e os animais que lá viviam falavam...e falavam bem.
De manhãzinha, bem antes de o sol nascer, os passarinhos cantavam e faziam ginástica para se aquecer.
Lá na floresta encantada, os animais se davam muito bem.
Tinha até a cobra Xiririca que queria encontrar alguém.
Xiririca queria se casar e logo cedinho saia de sua toca para um noivo encontrar.
Certo dia Xiririca, depois de muito andar, enrolou-se num tronco de árvore para poder descansar.
Foi quando viu encantada se arrastando num tapete de folhas, Jerônimo, o jacaré mais charmoso da floresta.
Seu coração bateu forte de tanta sorte.
Atenta, sem perder um movimento, Xiririca viu Jerônimo deslizar para o rio onde foi se refrescar. Depois de vários mergulhos e uma
farta alimentação, Jerônimo se recostou nas pedras para o descanso merecido após tanta agitação.
Xiririca muito esperta, desceu do galho e se arrastou para o rio aproveitando a ocasião. Passou pela pedra onde Jerônimo repousava e elegante bebeu água fingindo exaustão.


Jerônimo cavalheiro que era, lhe ofereceu companhia pois o adiantado da hora propiciava perigo vindo do caçador inimigo.
E assim passaram juntos, momentos agradáveis, trocando ideias, emitindo opiniões e provando a todo mundo que mesmo havendo diferenças, de tamanho, hábitos e cor, se respeitavam, se aceitavam e nem por isso, perdiam seu valor.
Xiririca estava certa, tinha encontrado o seu amor.
E os dois apaixonados, numa tarde de primavera se casaram, deixando a todos bem claro, que o amor e o respeito supera as diferenças

Augusta Schimidt

A cidade dos vagalumes





            


A cidade era muito pequena, porem seus habitantes muito unidos.
Todos sabiam de tudo.O que acontecia durante o dia, era assunto para o jantar.
Viviam do cultivo de suas plantações, e em geral a colheita era sempre muito boa.
Havia os que plantavam laranjas, outros café e milho e mesmo cana.
  Além desta plantação todos tinham sua horta particular para o sustento da família.
Ao redor das casas viam-se árvores de frutas como goiabas, maçãs, peras e até parreiras de uva.
Sempre ao final da colheita faziam uma grande festa na rua principal.
Chegou finalmente o grande dia, e as senhoras estavam muito ocupadas com tantos pratos especiais para serem feitos.
A rua estava toda enfeitada, com espigas de milho e abóboras. Usavam para enfeitar tudo que haviam colhido, ficava muito interessante de se ver.
A agitação corria solta, as crianças estavam alegres pulando de um lado para o outro.
Creio que toda a cidade estava presente nesta festa que acontecia o dia inteiro.
A noite foi chegando e a festa continuava.
Começou a escurecer e as luzes não se acendiam!
Alegres que estavam não deram muita importância ao fato.
Foi escurecendo mais, e ai então ficaram preocupados.
Vamos ver o que esta acontecendo...
Mexeram, lidaram com os fusíveis e nada de se acenderem as lâmpadas.
Acabaram ficando no escuro...
Foi então que começaram a ver as luzinhas piscando em todo lugar!
Mas o que é isso?
Estavam sem saber o que era aquilo.
Devagar tudo foi ficando quase iluminado, não era como as lâmpadas mas iluminavam!
Foi quando alguém gritou bem alto;
Os vaga-lumes...
Eram vaga-lumes pulando para todo lado, participando da festa também!
Riram a vontade, continuaram a festa pois os vaga-lumes se incumbiam de iluminar um pouco.
Depois disto ficou tradição na cidade, no dia da festa nada de lâmpadas.
Esperavam anoitecer para ver os vaga-lumes fazerem seu trabalho.
Não acreditam?
Pois vão conferir.
Onde?
Na cidade dos vaga-lumes....

  Marlene B. Cerviglieri