Um belo cachorro de raça,
fidalgo e rechonchudo, afastou-se certa vez de casa e foi passear pela floresta.
Perdeu-se? Nada! Cachorro não se
perde; sempre acha o caminho de volta pelo faro. Foi só passear e pronto.
Foi que foi e encontrou um lobo.
Um lobão faminto, magrelo, cansado de batalhar a vida atrás de almoços cada vez
mais rápidos na hora de fugir e cada vez menos dispostos a cair-lhes nas
garras.
Vendo aquele cão tão viçoso, tão
bem alimentado, perguntou:
– Como pode você estar assim tão
forte, enquanto eu vivo fraquinho, sempre à beirada fome, sempre perseguido
pelos caçadores?
– Ora, a resposta é fácil. Eu
tenho um dono.
– Dono? O que é isso?
– É uma pessoa maravilhosa, que
me adora. Sempre me traz as melhores comidas, me dá casa, conforto, e ainda
encontra tempo para me fazer cafuné!
– E você não precisa andar pela
floresta, caçar, passar fome e perigos?
– Nunca! Vivo no bem-bom, na
maciota! Tudo o que preciso fazer é lamber as mãos do meu dono e rosnar cada
vez que algum desconhecido se aproxima da nossa casa.
– Só isso? Mas que vida boa!
– Pois faça como eu! Venha
comigo. Eu dou um jeito de o meu dono te adotar. Você vai viver a melhor das
vidas, pode confiar em mim!
Fascinado, o lobo aceitou e
foram os dois em direção à casa que hospedava o cachorro com todos aqueles
confortos.
No meio do caminho, o lobo
percebeu uma correia em volta do pescoço do cachorro e perguntou o que era
aquilo.
– Bem, isso é uma coleira.
Trago-a sempre no pescoço. Com ela, às vezes meu dono me prende a uma
corrente...
– Prende a uma corrente?!
– Sim. Mas o que tem isso, se a
comida é boa?
O lobo parou e balançou a cabeça
para o cachorro:
– Pois fique lá com a sua comida
da prisão, primo cachorro. Eu posso passar privação às vezes, mas prefiro a
liberdade!
E voltou correndo para a
floresta, para sua vida de dificuldades, mas com o pescoço livre de qualquer
coleira!
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