Dona cenoura estava muito brava. Chegou resmungando no encontro da convenção dos legumes daquele ano.
-
Poxa! Eu nem cheguei perto daquele garotinho e ele saiu correndo. Será
que sou tão feia assim? Disse irritada.
O
senhor pepino, um distinto cavalheiro, ouvindo aquilo não se calou.
-
Que isso dona cenoura, olha para mim, sou lisinho, sempre em forma e minha
aparência é das melhores, mas é só eu tentar chegar perto de alguma criança que
elas saem apavoradas.
-
Deixa disso, senhor pepino! Disse o chuchu. Correr não é problema, pior é ser
desprezado quando te veem e ainda por cima falam que sou “sem graça”.
A
Senhora berinjela que há anos preside a reunião bateu o martelo e pediu
silêncio.
-
Senhoras e senhores, vamos ficar calmos! O assunto é muito importante e devemos
nos concentrar nele.
O
assistente da senhora berinjela, o rabanete, assinalou com calma os pontos que
precisavam ser discutidos e começou a falar:
-
Companheiros queridos, hoje precisaremos tomar uma decisão muito importante.
Precisamos mostrar para as crianças e para os adolescentes que somos do bem e
que não precisam ter medo de nós.
Dona
abóbora levantou a mão e pediu a palavra.
-
Tenho urgência, pois não aguento mais ser a lanterna dos horrores na festa das
bruxas. Não quero mais ser decoração do pavor. Falou com tristeza.
-
E quando nos juntamos então? Formamos uma simpática saladinha, mas a garotada
sai correndo apavorada. Disse a batata em couro com a cenoura.
-
Se nos juntamos numa agradável sopinha? Forma um pânico geral, as crianças
gritam, esperneiam, tem pesadelos. Parece até filme de terror! Somos zumbis
devoradores. E nem estou falando na fama que tenho de provocar puns fedorentos.
Falou o repolho.
O
senhor quiabo até contou-me que ouviu dizer que era um personagem de pesadelos
daqueles escorregadios que ninguém consegue destruir.
-
O que faremos? Gritaram todos numa só voz.
E
a convenção estava tumultuada, os legumes não se entendiam e a barulheira era
assim de “assustar”.
Passando
por lá, Mabel uma garotinha esperta e corada ouviu a confusão e resolveu
espiar. Ficou encantada com o que via naquele salão que ficou colorido com
todos aqueles personagens.
Eram
vários legumes com suas cores fortes num movimento frenético onde parecia uma
dança de formas e cores.
As
cenouras com sua cor alaranjada, os tomates vermelhinhos, os chuchus verdinhos
claros, os rabanetes branquinhos, as berinjelas roxinhas e as beterrabas então?
Estavam vestidas de vinho numa cor forte e atrativa.
Adorou
o que viu e resolveu entrar.
Foi
um susto geral! Um corre-corre total. Aquela criatura ali! - O que queria?
Perguntou a abóbora apavorada. - Veio acabar com a gente! Falou o nabo nervoso.
O
inhame tirou a roupa e escorregadio foi descendo para baixo da cadeira. Queria
se esconder. E corre daqui, corre dali, esconde mais adiante. E, vendo
aquilo, Mabel começou a rir e sem conseguir se controlar, suas gargalhadas
chamaram a atenção do Senhor Rabanete que cochichou no ouvido de Dona berinjela
uma ideia que teve. Dona berinjela bateu o martelo com toda a força chamando a
atenção dos companheiros e de Mabel que ficaram em silêncio olhando para o
palco.
Então,
Dona berinjela falou com calma!
Senhores
e senhoras leguminosos. Calma!
Temos
uma curiosa visitante e devemos ser educados com ela. E todos olharam para
Mabel que ficou mais corada ainda.
Dona
berinjela convidou Mabel para participar da convenção e explicou-lhe toda a
pauta e os objetivos da reunião e sua discussão.
Mabel
então explicou que o “medo” na verdade era porque os achavam “feios” assim
temendo os seus sabores. Todas as guloseimas que as crianças gostavam estavam
sempre “vestidos” de cores com pacotes atrativos, bonitos e sempre eram
apresentados associados a super-heróis, princesas e personagens que as crianças
gostavam. E, que eles, os legumes eram “despidos”, assim não chamavam a atenção.
No mercado, ficavam todos juntos, mas em compartimentos separados, onde só os
adultos gostavam de ir. E, quando iam para o prato, não agradavam aos olhos.
Ela disse que nunca havia reparado na beleza deles até aquele momento, assim
nunca tivera vontade de saboreá-los.
-
É isso! Disse o repolho. Precisamos de criatividade!
Mabel
que não era boba nem nada foi falando que os Japoneses gostam de legumes, pois
seus pratos são coloridos e tinham formas bonitas, todos com muitos legumes.
Aí, falou a cenoura malcriada.
-
Então vamos todos para o Japão!
-
Não é preciso ser radical. Vou ajudar vocês! Disse Mabel animada.
Assim,
Mabel tirou várias fotos dos legumes. Convocou toda a garotada do bairro e do
colégio, montaram pratos coloridos e bonitos, colocaram na internet, fizeram
propagandas nos mercados no bairro enfeitando as bancas dos legumes com
cartazes de personagens variados e atrativos e aproveitou para fazer um
concurso de receitas com vários legumes.
Foi
um sucesso! As crianças e os adolescentes provaram as receitas, aprovaram e
começaram a comer os legumes diariamente.
Dona
abóbora ficou feliz em representar no Halloween, pois depois virava um
delicioso caldo de abóbora.
E,
na convenção do ano seguinte, não só apareceram os legumes, mas todas as
crianças do bairro que estavam saudáveis e coradas, fortes e espertas e muito
felizes. Mas, houve uma pequena confusão no último encontro. Joãozinho, o
distraído da turma tropeçou no pepino caindo de boca no tomate. No final, foi
feita uma maravilhosa sopa onde todos saborearam com alegria.
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