Ia a raposa com fome quando deu com
um corvo, muito feliz da vida, no alto de um galho, com um belo pedaço de
queijo no bico.
É claro que a ladrona da raposa quis
o queijo na hora, mas o corvo estava empoleirado muito alto. Como é que ela
havia de subir até lá para roubar o queijo? Isso porque a raposa nem sonharia
em pedir um pedacinho. Ela não sabia pedir; só gostava mesmo de enganar os
outros para conseguir o que queria.
Nessas horas, para pôr em
funcionamento sua desonestidade, a raposa tinha de usar a esperteza que dizem
ser qualidade de todas as raposas. E como usou!
Foi-se chegando debaixo da árvore e
jogando sua lábia:
– Hum, mas se não é o grande cantor
que eu encontro!
Falando com o bico fechado, para não
deixar cair o queijo, o corvo espantou-se:
– Grunf... umpf... grac.. – o que
talvez quisesse dizer “Cantor... Que cantor? Cadê esse cantor de que a senhora
está falando?”
– Que cantor? Ora, mas é o senhor
mesmo! Todo mundo fala, em toda a floresta, da maravilhosa voz que o senhor
tem! Todo mundo fala: cantor bom mesmo, só o compadre corvo!
– Grof... murfm.. urgc.. – que na
certa seria uma resposta como “Falam mesmo? Não diga?”
E o corvo foi se inchando de orgulho.
– Digo e repito! Eu andava ansiosa
para encontrá-lo e poder gozar do privilégio de ouvir sua maviosa voz!
Mais inchado ainda ficou o corvo:
– Urmc... grofc.. – fez o corvo,
querendo dizer “Ora, bondade sua, comadre raposa...”
– Bondade, nada: realidade!
Garanto-lhe, mestre cantor, que, se eu puder ouvir uma de suas maravilhosas
canções, serei o animal mais feliz desta floresta!
O corvo nem aguentava mais de tanto
inchaço, de tanta vaidade e de tanto orgulho. Feliz da vida, abriu o bico para
soltar mais um de seus horríveis grasnidos, mas o que soltou foi o queijo, que
– fiuuumm... – veio cair árvore abaixo, bem na boca da esperta raposa!
E lá se
foi a raposa, saboreando o gostoso queijo e a vaidade do bobo do corvo, acreditava
em qualquer elogio!
Dizem que para haver um vigarista bem
sucedido, é preciso haver um trouxa bem embrulhado, não é?
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