Clara era uma menininha
feliz. Seu pai e sua mãe a amavam muito.
Clara tinha sido
esperada com muito amor, já que a sua mãe demorou a engravidar. Foi uma
felicidade só na casa do casal Silva.
Clara recebeu muito
carinho, mesmo antes de nascer. Seu pai acariciava a barriga de sua mãe e
cantava para ela.
Clara morava numa casa
bonita, com um jardim grande com vários brinquedos.
Clara tinha quatro anos
e nunca ficou doente e jamais chorou. Nem quando nasceu, pois aquela famosa
palmadinha que todo bebê recebe para testar o pulmão, Clara não recebeu, assim
não chorou.
Clara vivia contente em
seu mundo cheio de cuidados e carinho. Ela nunca saía de casa.
A mãe de Clara cuidava
para que nada lhe faltasse e saiu do emprego para se dedicar a filha. Clara
vivia no céu.
Os anos foram passando e
Clara feliz em seu mundo. Clara era cercada de todo conforto; televisão, DVD,
computador e aparelho de CD para ouvir suas músicas preferidas. Tudo
supervisionado pela sua mãe.
Clara recebia aulas em
casa. Sua mãe achou melhor assim. Clara não conhecia o mundo.
A mãe de Clara afirmava
com orgulho o fato de Clara nunca ter chorado. Sua filha era feliz! Sempre
afirmava.
Clara era uma menina
meiga e carinhosa. Muito bondosa e tratava todos os empregados da casa com
respeito e generosidade.
E o tempo foi
passando...
Um dia, o Sr. José
jardineiro da casa, precisou levar sua filha para o trabalho. A filha do Sr.
José se chamava Joana e tinha a mesma idade de Clara; oito anos.
Clara ficou super feliz,
pois nunca saía de casa e não tinha amiguinhos.
Joana era magrinha,
tinha os cabelos longos e vestia um vestido colorido e simples. Estava usando
chinelos de borracha e Clara ficou admirada com que viu. Nunca tinha se vestido
assim e achou maravilhoso aquele chinelo. Deixava os pés tão livres, pensava
curiosa.
Clara levou Joana para o
seu quarto e Joana vendo tudo aquilo não resistiu. Pulou de alegria! Muitos
brinquedos, dezenas de bonecas. Era tanta coisa que de seus olhos saíram duas
lágrimas. Clara nunca tinha visto aquilo.
O que saía dos olhos de
Joana? Clara ficou intrigada.
À noite, perguntou a sua
mãe o que era aquilo que tinha saído dos olhos de Joana e sua mãe explicou que
eram lágrimas, lágrimas de alegria, pois Joana não tinha tudo que Clara tinha e
aquela visão a emocionara.
Clara ficou curiosa,
pois nunca, nunquinha tinha saído aquilo de seus olhos.
De tanto pedir, Clara
conseguiu que o Jardineiro levasse Joana novamente em sua casa. Clara ficou
radiante!
As duas foram brincar no
jardim e todos aqueles brinquedos deixavam Joana tão eufórica que tropeçou no
escorrega caindo e machucando o joelho. Joana não aguentou de dor e chorou.
Clara novamente se deparou com aquelas lágrimas que muito a chamou a atenção.
Mas se Joana se
machucara por que as lágrimas? Lágrimas não saia quando estávamos alegres
demais? Perguntava-se em dúvida.
À noite, Clara perguntou
novamente a sua mãe, que lhe explicou que aquelas lágrimas eram de dor, porque
Joana tinha se machucado. Clara ficou pensativa.
Um dia Clara foi até a
cozinha. Queria comer os biscoitos que Dona Maria fazia.
Dona Maria era a
cozinheira da casa e gostava muito de Clara.
Quando chegou lá viu
Dona Maria num canto chorando. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto coberto
de lágrimas. Clara perguntou a Dona Maria se ela estava alegre ou se
tinha se machucado. Dona Maria disse que não, que estava chorando de saudades
do filhinho que deixara no Norte. Clara ficou intrigada.
Novamente foi perguntar
a sua mãe que lhe falou que neste caso as lágrimas de Dona Maria eram de
tristeza pela falta do filho. Clara foi dormir e mesmo não sabendo sentiu que
algo mudava em seu pensamento.
Clara ia fazer
aniversário no sábado e como nunca tinha saído de casa, pediu ao seu pai que a
levasse para passear, ela queria sair de casa.
Seu pai ficou muito
preocupado, perguntou a esposa o que achava e ela lhe disse que já estava na
hora de Clara conhecer o mundo lá fora.
Quando o sábado chegou,
Clara acordou muito feliz, pois finalmente ela ia sair.
Seu pai pegou o carro e
Clara e sua mãe entraram contentes e animadas.
Assim que o carro
saiu da garagem e tomou a rua, saíram duas lágrimas dos olhos de Clara. Ela
sabia que eram lágrimas de alegria, pois estava eufórica com o passeio. Mais
adiante o carro parou no primeiro sinal fechado. Clara viu algumas crianças se
aproximando correndo do carro. Estavam sujas com as roupas em trapos, pés no
chão. Clara correu para o outro lado do carro para ver melhor e esbarrou
machucando o braço. Clara então não aguentou e chorou de dor.
O carro seguiu mais a
diante e o pai de Clara resolveu parar em uma praça. Quando saíram do carro,
Clara observou mais adiante, um grupo de pessoas sentadas no chão. Eram iguais
aquelas crianças que tinha visto no sinal. Uma mulher segurava um bebe no colo
e ao lado tinha um velhinho, bem velhinho mesmo.
Clara não se conteve e
de seus olhos escorreram muitas lágrimas. Seu rosto ficou todo molhado e seus
olhos vermelhos. Não controlou os soluços que foram ouvidos por seu pai e sua
mãe. Clara chorou de emoção e chorou de dor. Ela tinha identificado.
Mas esse choro, clara
não conhecia. Era um sentimento novo que apertava seu coração que amolecia suas
forças.
Mas a mãe de Clara sabia
que sua menina, protegida e feliz, estava sentindo o mais nobre dos
sentimentos, pois de seus olhos saíam agora lágrimas de compaixão.
E assim, todos souberam
que finalmente Clara crescera e já poderia enfrentar o mundo e deste dia em
diante Clara não mais ficou isolada e sozinha, foi para uma escola legal e fez
muitas amizades tratando todos com carinho e compreensão, pois já conhecia seus
sentimentos que eram lhe apresentados através daquela aguinha que vez por outra
escorria de seus olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário