O menino morava alto
e da janela do quarto,
vendo o céu na imensidão,
sonhou ter um avião.
Queria voar muito em breve,
feito um pássaro leve.
O futuro aviador
escolhera a profissão
porque vira uma garota,
que o enchera de emoção.
Olhando-a de sua janela,
que tão alta já era,
queria chegar mais em cima,
onde estava a menina.
A garota era a mais linda,
que já vira em toda vida!
Com cabelos feito mel,
tinha os olhos cor do céu.
Sem saber o nome dela,
da garota da janela,
batizou-a de Marina.
Lindo nome de menina!
E os dias iam passando,
e ele sempre a espiando!
Às vezes, sorria, pra ela,
que, séria, ficava mais bela!
Queria dar-lhe um presente,
colorido, diferente...
colocaria uma fita,
cor-de-rosa...assim, bonita!
Pensou num passarinho
que cantasse bem baixinho,
mas, temendo que fugisse,
quedou-se calado e triste!
E andava o menino,
de tal jeito apaixonado,
que, voltando da escola,
nem pensava em jogar bola,
só olhava a pequena
que tão só lhe dava pena!
Nem queria mais o jato,
para vê-la lá do alto.
Sonhava vê-la na rua
e tê-la perto, de fato!
Seus pais já percebiam
que o garoto nem comia,
só ficava na janela,
para olhar a casa dela!
E, assim, preocupados,
repreendiam-no, coitado!
O garoto, no entanto,
observava com espanto,
a menina da janela,
sempre de roupa amarela!
Desistiu de dar-lhe o pássaro
e pensou em um vestido
com bolinhas coloridas,
pra ficar mais divertido!
Correu e pegou seu cofre,
quebrando-o em apenas um golpe!
Pensou:
“Já tenho o suficiente,
comprarei um bom presente”
Caminhou até a loja
e ficou desanimado,
o dinheiro só comprou
um peixinho prateado.
Voltou logo para casa,
tomou banho de lavanda,
penteou todo o cabelo
e olhou pela varanda...
A menina da janela,
como sempre, estava séria!
Ele achou que seu presente
faria Marina contente.
Desceu logo pra calçada,
a correr em disparada!
Dirigiu-se emocionado
para o prédio da amada.
Tocou leve a campainha,
que era fraca e fininha...
Com andar silencioso,
foi surgindo uma velhinha,
que, vendo o tal garoto,
penteado e perfumado,
carregando um presente,
atendeu-o sorridente!
Olhos fixos no presente,
convidou-o ao sofá,
foi pegar um bolo quente
e um copo com guaraná.
Enquanto a gentil senhora
arrumava o banquete,
o menino, ansioso,
gelava feito sorvete!
Por fim, encorajando-se,
em silêncio, levantou-se.
Bem quieto, ainda sozinho,
caminhou devagarinho...
Vendo a menina de costas,
chamou-a com carinho.
A garota não se mexeu!
continuou em seu lugar,
nem sequer olhou pra trás.
Um tanto acanhado
caminhando pro seu lado,
no ombro dela tocou...
A menina balançou,
foi perdendo o equilíbrio
e no chão se estatelou...
O garoto envergonhado,
ficou todo atrapalhado,
quando viu a bem amada,
pelo chão... esparramada
Então, soltou forte o riso,
gargalhou e com razão,
mas ficou tão indeciso se diria...
(sim ou não?)
...que só fora uma boneca
bem antiga e sem cor,
quem fizera florescer
seu primeiro e grande amor!
Maria Graça Almeida
Nenhum comentário:
Postar um comentário