A PEDRA E A ESTRADA






          A montanha era coberta por um bosque denso onde pássaros de muitas espécies viviam tranquilos e sossegados. Aqui e ali, em pequenas áreas livres de vegetação mais alta, a relva crescia viçosa ao lado de plantas rasteiras floridas e perfumadas. Cercado por toda essa beleza exuberante um pequeno paredão de pedra aflorava à superfície bem no início da rampa que descia até uma estrada pouco abaixo, e dele se podia avistar toda a região, até a linha do horizonte. Nesse paredão polido pela água da chuva que por ele escorrera durante séculos, uma pedra solitária cansou-se de admirar a paisagem que tinha à sua frente e passou a querer juntar-se às pedrinhas que calçavam a estrada.

          - Que faço eu cá em cima - ela se perguntava -, ao lado de tantas flores, quando minhas irmãs estão logo ali embaixo, porém longe de mim? Esse é um direito legítimo que tenho, e não descansarei enquanto não realizá-lo.

          E foi o que ela passou a tentar, valendo-se do vento e da chuva para mover-se pouco a pouco, centímetro a centímetro, até que conseguiu rolar pelo declive rumo ao leito da estrada, onde se acomodou do jeito que pôde ao lado das outras pedras pequeninas que lá se encontravam. Mas cedo ela descobriu que por aquela via passavam grandes carretas com rodas de ferro, animais de todo o tipo que a pisavam com força, homens calçando botas ferradas, e tudo isso a maltratava e machucava como nunca tinha acontecido antes. E para piorar seu drama, também a faziam rolar de um lado para outro, batiam nela com os pés, e quando chovia, a lama que nela respingava a deixava suja e com aparência horrível.

          A partir daí a pedra passou a olhar suspirosa para o lugar de onde viera, lamentando amargamente ter perdido, por simples capricho, a calma, a paz e a tranquilidade que outrora desfrutava no alto da montanha.


Moral da história: Os que fazem as coisas sem pensar, cedo se arrependem da sua imprevidência e insensatez.
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Baseado em uma fábula de Leonardo da Vinci

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