Esta manhã, Flora chegou à estação do
comboio. A grande estação da grande cidade.
Ontem, caminhou todo o dia para
apanhar o comboio.
Viajou toda a noite.
Viajou, ou melhor, fugiu, porque há
guerra no seu país.
Uma explosão assustadora, a casa em
fogo, e ninguém para apagar o incêndio que começava.
Por isso, Flora enfiou à pressa
alguma roupa na mochila, depois pegou no ursinho e não esqueceu a caixa com o
violino. E com os pais, fugiu para longe da sua aldeia.
Quando descem do comboio, já estão
noutro país. As pessoas têm um ar apressado, falam uma língua esquisita. Flora
vê que fazem gestos mas não percebe o que dizem.
Sente-se perdida…
Felizmente umas pessoas muito
generosas emprestaram uma casa aos pais de Flora. E na escola do bairro há um
lugar para ela, na classe dos mais novos. Vai poder aprender francês, a língua
esquisita que ouviu na estação.
No primeiro dia, o pai acompanha-a à
escola.
Assim que a veem, os meninos começam
a fazer troça dela.
— Olha, tem os cabelos cor de
laranja!
— E a cara cheia de sinais!
— Não é de cá! De onde é que tu vens?
— Olha os óculos! Eh, tiraste-os à
tua avó, ou quê?
Todos se riem. Todos, menos Flora.
Esta manhã, Flora trouxe o seu
violino. Depois das aulas vai à escola de música. Ao verem a caixa, os meninos
voltam a troçar dela.
— O que é aquilo? A caixa da
metralhadora?
— Não, é o cesto de ir ao mercado.
Ela só come peras!
— Cuidado, ela escondeu um crocodilo
lá dentro!
Todos se riem. Todos, menos Flora.
Até fica cada vez mais triste mas ninguém se dá conta.
Ninguém, exceto Antônio que, à saída
da escola, se a beira dela.
— Vais para casa, Flora?
— Não, vou escola música.
— Fazer o quê? — pergunta Antônio.
— Tocar violino…
— Queres que vá contigo?
Flora sorri e faz que sim com a
cabeça.
Nesta escola ouve-se música por todo
o lado, por detrás de cada porta. Antônio reconhece o som de um piano, de um
trompete e de uma flauta.
O professor da Flora é muito
simpático e deixa o Antônio ficar na sala, com a condição de não perturbar.
Flora toca bastante bem tanto a solo,
como em duo com o professor. Antônio escuta-os sem se mexer.
Um dia, na escola, as crianças
estavam a fazer um desenho quando, de repente, grandes nuvens escuras cobrem o
céu. Nuvens de tempestade, que deixam uma pessoa assustada. Os raios caem de
todos os lados, o trovão ruge e estala como um chicote. Zás! Não há luz: foi um
trovão que cortou a eletricidade.
— Eu vou procurar velas, — diz a
professora. — Fiquem tranquilos.
As crianças estão com muito medo.
Gritam e escondem-se a chorar debaixo das mesas. Flora bem gostava de as
acalmar. Mas como?
De repente tem uma ideia, uma ideia
muito boa.
Muito devagar, tira o violino da
caixa, depois o arco…
… Um… dois… três sons sobem na
escuridão da sala de aula e balançam-se suavemente. Dir-se-ia uma canção de
embalar. Depois, uma enfiada de notas forma uma dança. Como toca depressa, a
Flora! Escolheu fazer o seu violino cantar uma toada do seu país. É alegre,
triste, as duas coisas ao mesmo tempo. E graças a ela, todas as crianças
esqueceram a trovoada.
Que pena! A eletricidade voltou…
As crianças aplaudem.
— Obrigada, Flora, muito bem! — diz a
professora. E depois acrescenta: — Para amanhã não há trabalhos de casa. Mas
vão todos fazer um bonito desenho ou um poema para agradecer à Flora.
— Yupiii! — gritam os meninos. Agora
todos querem ser amigos de Flora. Mas ela só tem um amigo: Antônio. Ele
acompanha-a todas as semanas à aula de música.
O professor de música deu ao Antônio
uma linda flauta.
— Experimenta tocar um bocadinho!
Antônio experimentou e gostou muito
do som da flauta. A partir de então, passou a tocar todos os dias.
Muito rapidamente, começou a tocar
peças com Flora. Violino e flauta, flauta e violino, é muito divertido e tem
uma certa magia…
— E se vocês fizessem um pequeno
concerto na escola? — propõe o professor de música.
— Boa ideia! – exclama Flora. — E
depois vamos ao hospital tocar para os meninos doentes. No meu país faz-se isso
muitas vezes. A música ajuda a curar e a esquecer as preocupações.
— Que peças queres tocar, Antônio?
— Uhm… As mais fáceis? Oh, e daí não,
as difíceis também! Vou trabalhar todos os dias e fazer muitos progressos!
Os dois preparam então dez peças e,
com a ajuda do professor, desenharam um cartaz muito bonito. Toda a escola vem
ouvi-los. É um sucesso, um concerto magnífico! À saída, todos os meninos estão
decididos a aprender a tocar um instrumento.
E depois?
Ora bem, Flora e Antônio continuaram a tocar juntos.
PARA PRAZER DELES!
Viva a música!
Ora bem, Flora e Antônio continuaram a tocar juntos.
PARA PRAZER DELES!
Viva a música!
Gerda Muller
Quand Florica prend son violon
Paris, L´école des loisirs, 2001
(texto adaptado)
Quand Florica prend son violon
Paris, L´école des loisirs, 2001
(texto adaptado)
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