O Aniversário de Nina






Aquele era um dia muito especial para Nina, a elefantinha. Há meses ela sonhava com esse dia, o momento do seu aniversário. Tinha lido e relido a lista de convidados, não se esquecera de ninguém. A dona Minhoca e suas filhinhas, dona Vaca e os bezerros, a Galinha com os pintinhos, o Cachorro e seus filhotes… Toda a bicharada da floresta tinha sido convidada para a festança.
A elefantinha Nina queria se apresentar lindona em seu aniversário, por isso foi até ao guarda-roupa, e procura daqui, procura dali:
— Ah! Achei!
Colocou um vestido bem rodado, com as mangas fofas, e com um laço de fita bem grande atrás, ficou parecendo um bombom, linda de viver! Agora era só esperar os convidados…
— Hei psiu! Esperar os presentes! Ai, ai… Tô que não me aguento, só de pensar no montão de brinquedos, doces, balas, bombons, biscoitinhos que vou ganhar, já me derreto toda!
A elefantinha já estava ansiosa para receber seus convidados… Quer dizer, seus presentes. Bem no meio da sala havia uma mesa enorme, com um bolo de chocolate, rodeado de brigadeiro, cajuzinho, moranguinho… Tudo do bom e do melhor!
A campainha tocou:
— Dim-dom!
Nina correu toda desengonçada segurando o laço de fita que arrastava no chão.
— Já estou indo — gritou a elefantinha desesperada.
Ao abrir a porta, Nina já deu aquele sorrisão e cumprimentou:
— Boa noite, dona Galinha, obrigada pela presença, você trouxe o meu presente?
Dona Galinha, toda desconcertada, tentou se explicar:
— Sabe o que é, Nina, estou um pouco apertada, sem grana mesmo, vou te dar uma lembrancinha o mês que vem, pode ser, queridinha?
Se eu falar que não, vai adiantar alguma coisa? — pensou Nina emburrada e sem resposta.
Dona Elefanta, que estava por perto, não sabia onde colocar a cara de tanta vergonha. Pediu desculpas pela filha e chamou-a no canto:
— Nina querida, por favor, não pergunte aos convidados se trouxeram algum presente pra você. Isso é falta de educação. Não quero ouvir você dizer a palavra, “PRESENTE” de jeito nenhum. Se alguém tiver que lhe entregar alguma coisa, não vai precisar de você falar, tudo bem? E nesse momento a campainha tocou:
— Pode deixar, eu atendo! — gritou Nina.
— Boa noite, dona Minhoca, que bom que a senhora veio e trouxe toda a família… Você tem alguma “coisinha” pra me entregar?
— Ah! Claro, Nina o seu presente! Você não vai acreditar, estava vindo para a festa e acabei esquecendo seu presente bem em cima da cama. Desculpe!
Nina saiu toda tristonha.
— Que chatice de aniversário, viu? O que adianta fazer festa e não ganhar nenhum presentinho! Um presentinho de nada!
A campainha tocou novamente:
— Já tô indo, já tô indo!
— Boa noite, seu Cachorro, valeu a presença. Além do senhor e sua família, trouxe mais algum… algum… “embrulho”?
— E você acha que eu ia me esquecer do seu presentinho, Nina? Esquecer, eu até que não esqueci; como sei que você gosta muito de chocolate, comprei um pacote bem grande pra você… O único problema é que não guardei, e meus filhotes, achando que não tinha dono, acabaram comendo tudo. Fica pra próxima, fofinha!
E o mesmo se repetiu a noite inteira. Cada convidado que chegava, inventava uma desculpa mais esfarrapada que a outra, e presente que é bom… neca!
No meio da festa, lá estava Nina sentada no sofá da sala, toda tristonha, enquanto os convidados brincavam e se divertiam com seu aniversário. A mamãe Elefanta, ao ver sua filhota tão quietinha, chorosa, foi até a pequena para tentar conversar:
— Querida, a sua festa está tão linda, veio toda a bicharada, qual o motivo de tanta tristeza, posso saber?
— Mãe, você não viu? Ninguém, ninguém trouxe nem um embrulhinho, uma coisinha, um presentinho de nada pra mim? Eu nunca vi isso, que bicharada mais mal-educada. Vêm pra minha festa e esquecem o melhor do aniversário, que é o presente! E eu que pensei que ia ganhar um monte de doces… Estou aqui, chupando dedo, de mãos vazias!
— Pois eu acho que a sua festa linda daqui a pouco vai acabar; por isso, se você não aproveitar, vai ficar também sem nenhum momento legal para lembrar! Tire essa tristeza da cara, levante essa poupança do sofá, e vá brincar com seus convidados.
No início, Nina sentiu uma preguiça danada, não estava a fim de se divertir sem presentes, mas depois acabou cedendo às brincadeiras.
Correu, pulou, dançou, gritou, girou, rolou, e quando percebeu, já era hora de os convidados irem embora.
— Calma, galera, a festa começou agora, ué…
Os bichos começaram a sair, um por um. Já estava realmente tarde e o tempo passou voando. Pra falar a verdade, até Nina sentia um bocado de sono. Tirou a roupa rodada, colocou a camisola, e quando já estava quase dormindo lembrou que faltava alguma coisa:
— Mãe! Maêeeeee! Vem aqui no meu quarto, por favor?
A mãe chegou tão de mansinho na porta que ela quase não percebeu.
— Obrigada, mãe… A senhora estava certa, eu hoje ganhei o melhor presente do meu aniversário.
A mãe sorriu sem entender.
— Ganhei maravilhosos momentos com meus amigos, para eu me lembrar a vida toda!


Rúbia Mesquita
1,2,3 Contos de uma vez
Belo Horizonte, MG; Umi Duni Editora, 2009

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