O campo de girassóis estendia-se pela planície; ali cresciam girassóis
grandes, pequenos e muito pequenos, plantas de todos os tamanhos. Logo de
manhã, levantavam as cabeças e punham-se a olhar para o Sol; e, durante todo o
dia, as cabecinhas pasmadas dos girassóis seguiam o movimento do Sol desde que
nascia até que se escondia. Quando deixavam de o ver, as cabeças dos girassóis
caíam como se não pudessem com tanta tristeza. Todos os dias era aquele bailado
de flores seguindo o Sol.
Um girassol, dos tais muito pequeninos, crescia devagar, escondido,
encoberto pelos outros. Esse não olhava o Sol; como era muito pequeno, quando
os grandes levantavam a cabeça para ver o Sol, ele não via nada: tudo ficava
tapado pelas cabeças grandes dos girassóis grandes; portanto, como ele não via
o Sol, não havia razão para virar a cabeça como os outros faziam; ficava a
olhar para o chão, a ver as formigas e as ervas rasteiras. Por cima dele era um
teto de flores amarelas por onde não passava um único raio de sol. À noite,
quando os outros baixavam a cabeça, o girassol muito pequeno podia então ver o
céu. O brilho das estrelas deixava-o encantado e dizia: «Tantos sóis! Tantos
sóis!» E ficava toda a noite a seguir as estrelas como os outros seguiam o Sol.
Certa manhã, as nuvens cobriram o céu e os girassóis grandes deixaram de
ver o Sol; todos se queixaram e as pesadas cabeças inclinaram-se para o chão,
privadas do chamamento dos raios do Sol. Como olhavam para baixo, viram o
girassol muito pequeno que nem sabia o que era o Sol e não entendia as queixas
dos girassóis grandes.
Mas à noite, as estrelas também não apareceram e o girassol muito
pequeno sentiu-se triste. Agora já entendia os queixumes dos girassóis grandes,
daqueles que olhavam e seguiam o caminho do Sol. Na manhã seguinte, o céu
estava ainda encoberto e os raios do Sol não vinham chamar os girassóis para a
dança habitual e as grandes cabeças amarelas sentiam-se perdidas sem saberem
para onde se virar. Então o girassol muito pequeno falou aos grandes daqueles
muitos sóis que ele seguia de noite; e os grandes falaram do Sol quente que
seguiam de dia.
— Nunca o vi — dizia o girassol muito pequeno. — Nem sei como é! As
vossas cabeças tapam o céu e de dia só posso olhar o chão, as ervas e os
animais que se movem a nossos pés.
Os grandes girassóis sentiram-se envergonhados; na sua adoração pelo
Sol, não deixavam que um irmão mais pequeno conhecesse aquele que comandava os
seus movimentos!
— Vamos deixar-te espaço para que vejas o Sol — prometeram eles. — Mas
de noite queremos também olhar esses teus sóis pequeninos.
Quando as nuvens se desfizeram e as estrelas voltaram a brilhar, todos
viram o céu estrelado. Na manhã seguinte, os girassóis grandes afastaram-se um
pouco; então o girassol muito pequeno viu o Sol e o movimento da sua cabeça
deslumbrada acompanhou-o todo o dia.
— Que dizes tu do nosso Sol? — quiseram saber os girassóis grandes. —
Não te parece que é lindo?
— Sim, é lindo — respondeu o girassol muito pequeno, ainda estonteado
pela luz do Sol. — Mas os meus sóis pequeninos também são lindos! Vou olhar o
Sol de dia e as estrelas de noite.
É por isso que no tal campo de girassóis há um girassol muito pequeno
que olha para o céu de dia, para ver o Sol, e de noite, para admirar as
estrelas.
Natércia
Rocha
Castelos de areia
Venda
Nova, Bertrand Editora, 1995
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