No
país das fadas, quando as crianças já são
crescidas, recebem da Academia das Fadas a sua primeira varinha de condão. É um
grande dia para elas, que podem então começar a aprender os mais belos toques
de magia… Mas sob a condição de largarem a chupeta e o ursinho.
Aos
cinco anos, Mina era uma minúscula fada, do tamanho do teu dedo mindinho. Mina
ainda falava à bebê: dizia “Au-au” para cão, “fafá” para fada, “vavá” para
varinha e “quelo” em vez de quero. Às vezes também ficava vermelha de cólera,
fazia beicinho, dobrava as asas e recusava-se a fazer fosse o que fosse. Em
conclusão: tinha ficado uma fada-bebê!
—
É normal, é uma criança — dizia o rei seu pai, que tinha sido sempre muito
compreensivo para com Mina, a ponto de, por vezes, se rir dos seus amuos e dos
pequenos defeitos de pronúncia.
Mas,
o que mais aborrecia a rainha-fada era ver Mina de chupeta. Mina continuava a
chuchar nela à noite, mas também pegava nela à tarde, e quando estava cansada,
e para dizer adeus aos pais e bom-dia ao seu ursinho-fada, e para ir para a
escola das fadas. E depois, até para ir para a mesa. E para tomar banho. Enfim,
todos os pretextos eram bons para chuchar naquela malvada chupeta.
Mina
gostava tanto da sua chupeta que a limpava com um pano todas as manhãs, como
fazem as fadas grandes às suas varinhas. Lidava com a sua tetina como Aladino
com a sua lâmpada mágica ou como outras pessoas fazem com a galinha dos ovos de
ouro. Como se fosse um verdadeiro tesouro!
A
mãe de Mina, ao ver aproximar-se o dia do seu quinto aniversário, leu nos
grandes livros das fadas tudo o que poderia fazer para acabar com a chupeta: o
toque de “Superlipopeta, e zás, a chupeta!”, o toque mágico da “madrinha da
Gata Borralheira”, que consistia em transformar a tetina numa gigantesca
abóbora, o estratagema da chupeta volante, da tetina malcheirosa, ou a receita
da tetina com piripiri.
Mas
nada resultava. Mina não largava a chupeta e dizia “dada” e “féfé” e “nana”. As
pessoas chegavam a perguntar-se se aquele objeto de plástico a impediria de
falar como uma fada de cinco anos.
Numa
bela manhã de primavera, chegou uma mensagem a casa de Mina, trazida por uma
pomba cor-de-rosa. Era uma linda carta resplandecente com pozinhos de fada.
Mina baixou a cabeça, franziu o sobrolho e bateu o pé. Sabia muito bem o que a
esperava: iam pedir-
-lhe que fosse grande e que deitasse fora a chupeta.
-lhe que fosse grande e que deitasse fora a chupeta.
Por
seu lado, a mãe aplaudiu:
—
Minha querida, hoje é o grande dia! É a tua carta da Academia das Fadas!
A
mãe de Mina tinha lágrimas nos olhos, porque é sempre comovedor ver crescer
a sua menina-fada. De contente, abraçou
a pomba mensageira cor-de-rosa, que se transformou imediatamente na
linda fada Sininho. Quanto à carta cor-de-rosa, essa transformou-se em varinha
mágica.
—
Bom dia, Mina — disse a fada Sininho. — Sabes que hoje venho entregar-te a
varinha mágica?
—
“Tá” bem — resmungou Mina.
—
Mas conheces as regras da Academia das Fadas, não é verdade?
Mina
rosnou ainda um “sssim”.
—
Se aceitares a varinha mágica, tens de deitar fora a chupeta. Nada de varinha
mágica para as bebês-fadas com chupeta!
—
Prefiro continuar com a chupeta — disse Mina num tom amuado.
—
Oh, não é possível! Uma destas! É a primeira vez que ouço tal coisa! — diz a
fada-madrinha a sorrir. — Tenho a certeza de que, se dissesses às meninas do
país dos homens para escolherem entre uma varinha mágica e uma chupeta, elas
não hesitariam um segundo… “Uma chupeta nem sequer é mágica. Enquanto uma
varinha… com ela posso conseguir fazer imensas coisas!” Seria isto o que as
meninas pensariam imediatamente.
Mina,
mal-humorada, bateu o pé.
—
E o que é que eu podia fazer com a minha varinha?
—
Coisas maravilhosas!
E
por artes mágicas, a fada Sininho fez aparecer diante dela o Grande Livro
das Grandes Obras das Fadas, onde estavam registados os atos mais mágicos:
- Distribuir dons quando nascem novas fadas: ser inteligente, generosa, alegre…
- Contrariar os feitiços das fadas ciumentas, aquelas que não foram convidadas para o batizado.
- Transformar uma abóbora em carroça, para ajudar uma menina que está sozinha.
- Dar alimentos àqueles que têm fome.
- Proteger uma princesa que tem de dormir durante cem anos.
- Oferecer livros aos meninos que querem aprender.
- Dar sorrisos aos velhinhos tristes.
A
fada mensageira fechou o Grande Livro das Grandes Obras com os olhos a
brilhar.
—
Então, o que é que escolhes? Queres continuar com a chupeta de fada-bebê ou
receber uma magnífica varinha de condão?
Mina
confessou que, afinal, preferia a varinha de condão. A mãe, muito orgulhosa,
apertou-a ao peito e disse:
—
Agora já és Grande! Vamos divertir-nos as duas, com os nossos truques mágicos!
E
foi assim que Mina recebeu da Academia das Fadas uma magnífica varinha de
condão cor-de-rosa e branca, que ela contemplava de olhos a brilhar.
Podes
acreditar que, a partir daquele dia, não voltou a ter saudades da chupeta,
porque se deu conta de que não era difícil decidir, de uma vez por todas,
deitá-la fora e… crescer a sério!
—
Vá lá, menina Mina! — disse a fada-madrinha. — Ao trabalho! Não basta querer
ser uma menina crescida para o ser. Vais aprender coisas apaixonantes no nosso
mundo!
E,
com um toque da sua varinha mágica, abriu-lhe o Grande Livro das Fadas,
aquele que permite a todas as meninas tornarem-se grandes fadas, dignas de
figurarem nos grandes contos.
Sophie
Carquain
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