— Mas onde é que ele está? — pergunta o pai. — A
escola já acabou há muito tempo!
A mãe vai, mais uma vez, ver o horário e meneia a
cabeça. Percebe-se uma pontinha de medo na sua voz quando diz:
— Geralmente, já cá costuma estar…
— Não — o pai abana a cabeça. — Não é bem assim.
Lembras-te de que ele ainda no outro dia voltou a…
— Tirou a joaninha do passeio e foi pô-la na relva…
— Exatamente — diz o pai. — E não foi há tanto
tempo assim que ele…
— Eu sei — diz a mãe. — Que ele queria tirar a
minhoca do bico do melro…
— Então, e não tirou a borboleta da poça de água?
— Salvou o abelhão de morrer na teia de aranha,
queres tu dizer…
— Não interessa — diz o pai. — De qualquer forma,
ele ainda não chegou.
“Está a demorar tanto…” pensa a mãe. “Tanto…”
Já tinha ido à janela espreitar, primeiro para a
rua, na direção de onde ele costumava vir, depois para o outro lado e ainda
para o parque em frente. Mas agora não podia deixar o que estava a fazer na
cozinha.
— Pronto, então vou eu — consola-a o pai. —
Encontro-o já!
“Se não tiver acontecido nada…” pensa a mãe.
Nesse momento, tocam com força à campainha. Os pais
acorrem. Matias precipita-se para dentro. O pai e a mãe olham para o filho, e
depois entreolham-se. O que irá ele dizer? Solta-se uma torrente de palavras:
— Sabem? Sabem? — exclama, ainda ofegante.
— Não — diz o pai afavelmente. — Não sabemos.
Infelizmente, nós os dois não sabemos de nada.
— Ali em baixo está uma pomba que só tem uma pata!
Matias lança a novidade com os olhos arregalados de
espanto e visivelmente excitado.
— Só tem uma pata, aquela pomba — continua. — A
pata direita, e de cada vez que quer chegar à comida, bem… uma mulher estava a
dar-lhe comida e vinham sempre as outras todas e eram muito mais rápidas. Eu
dizia — xô, xô, — mas só assustava a que tinha uma pata e ela fugia… Voar,
voava bem, mas no chão… e as outras… as outras…
As palavras perdem-se. Fica apenas um filho
consternado que olha, desesperado, ora para a mãe, ora para o pai, durante
muito tempo.
— E foi por isso que vieste tão tarde da escola? —
pergunta o pai amavelmente — Outra vez?
Matias diz que sim com a cabeça.
— As pombas com duas patas roubam o pão à que só
tem uma. Ela não é suficientemente rápida… é lenta, muito… demasiado lenta…
Os olhos assustados abrem-se ainda mais.
— Vai morrer à fome? — pergunta.
— Não, não vai — diz o pai com voz determinada. — A
mãe já vai buscar alguma coisa à
cozinha e … — deita-lhe um olhar.
cozinha e … — deita-lhe um olhar.
A mãe defende-se:
— Agora vamos comer, se não, as panquecas…
Mas o pai nem sequer ouviu.
— …já traz pão da cozinha.
— Mas aquecidas não são tão boas!
— …pão da cozinha, e depois vamos lá ver o que
podemos fazer com a pomba, não é?
O pai parece muito divertido ao falar. A mãe traz
pão da cozinha. Matias meneia a cabeça algumas vezes. Ainda está perturbado com
o que acabara de ver.
— …e depois vêm sempre as pombas com duas patas —
continua — e a que só tem uma encolhe-‑se. Salta para o lado, cheia de medo e…
— Onde é que ela está? — pergunta o pai.
Matias conduz os pais até ao banco verde perto dos
arbustos. As pombas já estão à espera, sacodem as asas e esvoaçam, debicam o
pão que as pessoas lhes deitam, gostam de ir comê-lo à mão.
— Agora vamos ver se juntos conseguimos — diz o pai
com energia.
Ah! A pomba que só tem uma pata também aparece.
Aproxima-se aos saltinhos, com dificuldade. Matias aponta para ela, saltita de
um pé para o outro, aos gritos:
— Ali! Está ali! Estás a vê-la? Aquela ali! Aquela!
Não é mesmo nada fácil ajudá-la. Sozinho, Matias
nunca teria conseguido dar-lhe de
comer. — Xô, xô! — faz ele. Muitas vão embora, enquanto a pomba doente fica junto do pai. As outras também recebem alguma coisa, mas ela recebe um verdadeiro banquete.
comer. — Xô, xô! — faz ele. Muitas vão embora, enquanto a pomba doente fica junto do pai. As outras também recebem alguma coisa, mas ela recebe um verdadeiro banquete.
Matias está feliz. Ao sentar-se à mesa para
almoçar, diz-lhe o pai:
— Se tivesses vindo logo… quero dizer, se nos
tivesses chamado logo depois da escola, não é… não teria sido bem melhor?
Matias pensa e responde:
— Talvez. És capaz de ter razão, mas agora, ela
também já tem a barriga cheia.
Lutz Besch
Jutta Modler
(org.)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987
(Tradução e adaptação)
Brücken Bauen
Wien, Herder, 1987
(Tradução e adaptação)
Nenhum comentário:
Postar um comentário