Num reino distante, o soberano morreu deixando como herdeiro o seu filho
único. Saul tinha apenas onze anos quando, triste e assustado, foi ter com o
conselheiro real a fim de que este lhe dissesse o que deveria fazer para subir
ao trono, como era desejo de seu pai.
— Para seres rei, tens de encontrar primeiro o
bastão do poder. Ele dar-te-á a força e a sabedoria que é preciso para governar
de uma maneira justa.
— E onde está esse bastão do poder? — perguntou
Saul.
— Pouco antes de morrer o teu pai ordenou que o
escondessem. Amanhã pôr-te-ás a caminho para o encontrares.
Naquela noite Saul deitou-se muito ansioso. Já
bastava a dor pela perda do pai…E se não fosse capaz de encontrar o bastão do
poder? Nem sequer sabia por onde começar a busca!
Na manhã seguinte, um criado veio acordá-lo.
Entretanto, um outro preparou-lhe o cavalo e as provisões para a viagem. Saul
pôs à cintura a espada do pai e pôs-se a caminho. Dois cavaleiros escoltaram-no
até ao bosque onde acabava o mundo conhecido e principiava um labirinto de
veredas entre densa vegetação, labirinto esse que ele jamais tinha percorrido.
A partir daí devia seguir sozinho.
A princípio, o jovem príncipe teve muito medo:
estava entregue a si próprio e não teria a ajuda de ninguém. Mas, depois, os
raios de sol que passavam por entre as árvores e o alegre cantar dos pássaros
iluminaram o seu coração.
Saul fez uma paragem junto a um poço e
interrogou-se se não seria aquele o lugar escolhido pelo pai para esconder o
bastão do poder. Para se certificar, puxou da corda até fazer subir um balde
cheio de água fresca. Despejou-a no chão para ver se haveria alguma coisa
dentro do balde. Mas nada!
— Maldito sejas tu e todos os da tua estirpe! —
gritou uma voz atrás de si.
Saul desembainhou a espada, ao mesmo tempo que se
virava para arremeter contra quem lhe falara de forma tão ameaçadora. Mas, ao
ver que era uma velha encurvada e temerosa, voltou a meter a espada na bainha.
— Quem és tu para me falares assim? — perguntou — O
que queres?
— E quem és tu para desperdiçar a água do poço? —
respondeu a anciã — Que pretendes com isso?
— Busco o bastão do poder que o meu pai escondeu
antes de morrer.
Ao ouvir tal, a anciã deu uma estrondosa gargalhada
que quase a fez cair ao chão.
Ofendido, Saul disse-lhe:
— Já que achas tanta graça, talvez me possas
indicar onde o encontrar. Não conheço esta floresta.
A anciã olhou para o príncipe com mais afeto e
disse:
— O bastão do poder está mais perto do que parece.
— Queres dizer que está no poço? Tenho de descer
até ao fundo?
— Não — respondeu ela — só te disse que está mais
perto do que parece.
A anciã disse-lhe adeus com a mão e desapareceu por
entre a espessura da floresta.
Saul montou de novo no seu cavalo e prosseguiu
viagem. Esperava encontrar o bastão do poder num poço, na cabana de um pastor,
talvez até numa igreja abandonada… Todavia, só via floresta, sempre floresta. A
dada altura já não sabia se realmente estava a avançar ou se andava em círculo.
Tinha a impressão de passar mais que uma vez pelos mesmos caminhos.
Mas as palavras da velhinha tinham-no deixado
desconcertado. “O bastão de poder está mais perto do que parece.”
“Mais perto como? ”, interrogava-se. Se não o via em
lado algum!
Quando a noite caiu, Saul continuou a andar mais um
pouco na esperança de chegar a alguma aldeia. Por fim, teve que se conformar em
dormir ao relento. Desmontou. Tirou mantas, comida e água. De todo o lado
chegavam uivos e o ulular de aves estranhas. Atemorizado, comeu um pouco de pão
com queijo e depois envolveu-se na manta, como se esta o protegesse de todos os
perigos.
Ao acordar pela manhã, viu uma cara preta e
pontiaguda a fitá-lo.
Após o susto inicial, deu-se conta de que era um
corvo. Tinha pousado no seu peito e observava-o com uns olhos bem próximos um
do outro.
— Tu, passaroco. Fora daqui! A não ser que queiras
mostrar-me onde se esconde o bastão do poder!
Como se tivesse entendido o que Saul acabava de lhe
dizer, o corvo voou para uma pedra lisa e vertical. Aquele pôs-se de pé e logo
viu que no chão havia muitas pedras daquelas… Eram lápides. Logo, tinha passado
a noite num cemitério abandonado! Dando graças a Deus por se ter dado conta
somente pela manhã do lugar onde estava, Saul acercou-se cautelosamente da
lápide onde o corvo se pousara. Este virava a cabeça a espiar-lhe as intenções.
Pensando que talvez o pássaro fosse um sinal, Saul
limpou o pó da lousa horizontal que cobria o sarcófago. O corvo grasnou duas
vezes mas sem se afastar. Decidido a seguir a sua intuição, o rapaz
desembainhou a espada e utilizou-a como alavanca para levantar a pesada pedra. “Talvez
o bastão do poder se esconda debaixo de uma destas lousas”, pensou.
Mas quando começou a erguê-la com grande esforço, o
fio da espada partiu-se e Saul ficou com o punho na mão. Furioso por ter
partido a espada que herdara do pai, meteu o punho que lhe restava no cinto,
subiu para o cavalo e deu meia volta.
Durante mais de meia jornada andou perdido. E já
pensava que nunca encontraria o caminho de volta ao palácio… De qualquer modo,
chegaria de mãos vazias…
Sentia-se deveras contristado, mas, quando passou
novamente pelo poço, não pôde deixar de soltar um grito de alegria. Ali estava
de novo a anciã que, nesse momento, se esforçava por tirar um balde de água.
Saul saltou do cavalo e ajudou-a, enquanto lhe dizia:
— Disseste-me que o bastão do poder está perto, mas
ainda não o vi em lado algum.
— Claro — retorquiu a anciã — Tem-lo tão perto de
ti que não o vês!
Esta resposta voltou a desconcertá-lo. Despediu-se
dela e reiniciou o caminho de volta.
Então, quando as ameias do palácio já se desenhavam
por entre as árvores, Saul teve uma revelação. Como se a sua mão soubesse mais
do que ele, levou-a ao cinto onde estivera a espada e tirou o que restava dela:
o punho. Com o coração a bater, Saul arrancou as tiras de couro que o revestiam
e viu que o punho da espada era um cilindro oco em cujo interior havia um
pergaminho. E nele estava escrito com a letra do pai:
Meu querido Saul,
Quando leres este pergaminho já não estarei neste
mundo e tu serás o novo rei.
Escondi-o no punho da espada, não por ela ter algum
valor, mas porque quero que entendas que o importante está sempre contigo. O
bastão do poder encontrá-lo-ás sempre dentro de ti, se agires com justiça,
humildade e generosidade, pois não há maior conquista do que a conquista de
ti mesmo. Não precisas de mais nada para governar. Vemo-nos no outro mundo,
Teu Pai
Dr. Eduard Estivill; Montse Domènech
Cuentos para crecer: Historias mágicas para
educar con valores
Barcelona: Editorial Planeta, 2006
(Tradução e adaptação)
Barcelona: Editorial Planeta, 2006
(Tradução e adaptação)
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