— O vencedor é… Leãozinho, o redondinho!
Começou a detestar-se, da raíz dos cabelos à ponta dos pés, passando pelo seu nome, que achava horrível. Quando se cruzava com um espelho, olhava-se bem de frente e punha a língua de fora. Olhos nos olhos, dizia coisas horríveis a si mesmo. Insultava-se, dizendo:
— Grande gordo! Miserável atarracado!
Quando se é um pouco gordo ou diferente dos outros, e quando sentimos tristeza por essa diferença, os outros tiram proveito disso. Os colegas de Leãozinho desdenhavam dele. No recreio, diziam-lhe:
— Corre, Leão, que te faz emagrecer!
Sabes bem que basta sermos um pouco diferentes (mais pequenos, mais altos, mais magros ou mais gordos) para que todos reparem em nós. O que Leão temia eram as aulas de ginástica, porque era preciso despir-se e pôr-se em calções. Mas de que ele tinha medo, acima de tudo, era do momento em que os capitães escolhiam as suas equipas de futebol. Era sempre o último a ser escolhido. Ele e Hugo, o magricelas de óculos, a quem chamavam “serpente com lentes”. Um gordo e um magro formam uma equipa estranha. Quando a professora dizia:
— Falta escolher o Leão e o Hugo. Quem escolhe o Leão? E quem escolhe o Hugo?
Hugo resmungava sempre porque, apesar de ser magro, sabia jogar. Leão ficava calado. Nem sequer lhe apetecia falar. Tinha riscado as palavras “gordo” e “magro” do seu vocabulário e corava sempre que falavam de alguém que fosse musculoso. Sentia-se complexado e, como os colegas sabiam isso, ainda o arreliavam mais. A sua vida tinha-se tornado um inferno! Por uma ou duas vezes quis deixar de almoçar. Mas, quando regressou a casa às quatro horas, devorou três quartos de uma baguette, barrada com manteiga de amendoim. À noite, dizia sempre que não tinha fome e ia deitar-se de barriga vazia. Mas, mesmo assim, não conseguia emagrecer! Tentou apertar os pneus da barriga com muita força, a ponto de sentir dores. Dizia para consigo: “À força de os apertar, acabarão por desaparecer.”
Um dia, a mãe encontrou-o a fazer isso. Sentiu um aperto no seu coração de mãe, e as lágrimas inundaram-lhe os olhos. Sentiam pena do filho, ela e o pai. Um sábado, este pegou num velho álbum de fotografias e mostrou-o ao filho:
— Olha só como eu era aos dezessete anos! Um autêntico magricela.
— Tinhas sorte! — suspirou Leãozinho.
O pai riu-se com gosto.
— Sorte? Era magro como um pepino. Até me chamavam “desajeitado” ou “Pepino, o fino”. Quantas vezes o ouvi! Sentia-me muito infeliz. Sonhava ter preguinhas na barrinha e músculos por todo o lado. Dizia para comigo mesmo: “Os mais fortes são os mais rechonchudos”.
Leão começou a rir. O pai continuou:
— Comi e fartei-me de comer até ficar doente. Mas continuei a ser “Pepino, o fino”. Um dia pensei que não estava certo que fossem os outros a decidir se eu era demasiado pequeno ou demasiado magro. Sentia-me bem com o meu corpo. Se fosse como tu, filho, pensaria que sou bem constituído. Nunca diria “Sou o mais gordo”, mas antes “Sou o mais forte”. Mete isso na tua cabeça e vais ver que todos te vão querer na sua equipa. Aliás, se jogarem ao braço de ferro, aposto que és tu que ganhas.
Leão ouviu o pai com atenção. Os outros que dissessem o que quisessem, mas ele não se insultaria mais diante do espelho. Voltou a brincar e a rir. Agora pensava: “É verdade que sou bem forte!” Os colegas deixaram de fazer troça dele. E sabes que mais? Tornou-se campeão de futebol!
https://historiasparaosmaispequeninos.wordpress.com/2008/01/23/leaozinho-o-redondinho/
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