Bárbara estava furiosa. Já tinha o dia inteiro
estragado. Não, o ano inteiro!
Começara o novo ano escolar com cadernos novos, lápis de
cor novos e uma caneta de tinta permanente novinha em folha. Tomara a resolução de anotar e aprender tudo direitinho
logo desde o primeiro dia. Principalmente em Alemão. A professora Joana tinha sido tão simpática! E não é que a Doli passou o tempo a segredar-lhe ao
ouvido a letra daquela canção que decorara no verão? Claro que a professora Joana disse imediatamente:
— Vocês não preferem ouvir, em vez de conversarem uma com a
outra?
“Vocês”! Ela até estava a prestar atenção à professora! Toda a atenção que conseguia, aliás, só que o ouvido
esquerdo estava ocupado por Doli, que lhe sussurrava:
Mar de prata e areia branca
Que saudades da praia…
Bárbara já estava a ficar surda com os cochichos.
Que texto mais estúpido!
— Chiu! — fez ela.
A professora Joana lançou-lhe um olhar de advertência.
Mas porque é que me fui sentar ao lado da Doli?
Doli segredava:
— Espera, eu escrevo-te o texto.
Pegou na caneta de tinta permanente de Bárbara e
foi então que tudo aconteceu. Um enorme pingo de
tinta caiu no caderno de Bárbara e espalhou-se. Um borrão de tinta escuro e horrível.
Bárbara arrancou a caneta das mãos de Doli.
— Estás maluca?
— Caladas! — gritou a professora. — Se têm mesmo de
discutir, discutam no intervalo! Agora está calada, Bárbara, se não, vou ter de vos separar!
Bárbara recostou-se para trás e cruzou os braços.
Ora isso é que seria uma ótima ideia, tirar-me
daqui a Doli
— pensou, fixando o borrão com um olhar irritado. O caderno de
alemão estava estragado e a professora estava
zangada com ela.
Quando chegaram à paragem do autocarro, já lá
estava Francisco, o irmão de Bárbara. Bárbara correu para ele e cumprimentou-o.
E, no autocarro, sentou-se ao seu lado, coisa que nunca fazia. Francisco
admirou-se. Depois, viu a cara de Doli e percebeu que as duas meninas estavam
zangadas uma com a outra. Bárbara fazia de conta que Doli não existia.
Francisco já estava habituado. Aquelas coisas
geralmente demoravam um dia ou dois, e no fim as duas voltavam a ser as
melhores amigas uma da outra.
— Como é que correu a escola? — perguntou a irmã.
— Imagina o que me aconteceu — contou Francisco. —
Fiz um borrão de tinta no caderno de matemática do
Ricardo!
— Tu?!
— Sim. Tem de se ter cautela com as canetas de
tinta permanente. Quando se roda a carapuça na direção contrária, a tinta sai toda! — Francisco riu-se.
— Bem, o Ricardo ficou tão zangado! Mas eu peguei no caderno e do
borrão fiz um polvo.
— Um quê?
— Um polvo… e à volta desenhei uma paisagem
subaquática, com corais e tudo, e pintei uns peixes! Ficou fantástica!
Francisco estava convencido de que um dia iria
tornar-se um artista. E sabia desenhar mesmo bem.
— A princípio, o Ricardo queria arrancar a folha,
mas depois acabou por deixá-la ficar e agora até está todo orgulhoso dela.
Bárbara olhava pensativa pela janela. Se nesse
momento tivesse contado: “Olha, a Doli fez-me um borrão no caderno de alemão! E estragou-me o dia!”, provavelmente o Francisco
não ia compreender o motivo do alvoroço. Até mesmo Bárbara já não percebia porque se tinha zangado tanto.
A Doli nem fez de propósito!, pensava.
À saída do autocarro, Doli queria ir-se embora o
mais depressa possível. Bárbara chamou-a.
— Espera! Vens hoje à tarde a minha casa?
Doli parou indecisa.
— Prometeste-me que ias escrever no meu álbum novo!
Doli percebeu que Bárbara queria fazer as pazes com
ela.
— Está bem, escrevo-te um poema fantástico… para
compensar o caderno arruinado!
— O quê? Ah, estás a falar da mancha de tinta! —
disse Bárbara. — Não te preocupes. O Francisco vai fazer-me
dali um quadro. Ele tem muito jeito para essas coisas.
Monika Pelz
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