O compadre Benício era bronco
como ele só, mas metido a explorar os outros.
Contratava algum caboclo para
carpir sua terra, com a condição de que, se ele desistisse antes do fim da
tarefa, nada lhe pagaria pelo trabalho já feito. Só que, depois que o coitado já
tinha carpido um mundão de terreno, o compadre Benício fazia-o carpir uma
capoeira de urtigas das mais ardidas! Está visto que o pobre coitado, de tanta
coceira, acabava desistindo e saía sem ganhar um tostão por toda a trabalheira
que já tinha executado... Que safado esse compadre Benício, não?
Foi que o Pedro Malasarte ouviu
falar da história e apresentou-se no sítio do malandro, preparado para o
trabalho.
– Está contratado, seu
Malasarte – disse o compadre Benício. – Se cumprir a tarefa do dia, dou-lhe um
boi como pagamento!
– Um boi, compadre? –
admirou-se falsamente o Pedro Malasarte. – Olhe que é paga da boa! Ah, mas
estou vendo que o senhor tem uma capoeira de urtigas das bravas,compadre
Benício. Por que não começar por aqui?
O compadre Benício não gostou
da proposta. Se o Malasarte abandonasse o trabalho logo de início, que lucro
ele teria? Resolveu então mudar as regras do jogo:
– Concordo, mas faço um outro
trato. Se o senhor se coçar uma só vez, durante o trabalho, não lhe pago nada e
o senhor vai ter de carpir mais duas tarefas, de graça. Vou deixar meu filho
aqui, conferindo tudo o que o senhor fizer. Se o senhor se coçar uma vezinha
só, ele vem me avisar na mesma hora.
Malasarte pegou o enxadão e
pôs-se a trabalhar, sob os olhares do filho do compadre Benício, um rapaz sonso
como ele só.
Quando não aguentava mais de
vontade de se coçar, voltou-se para o rapaz:
– Diga-me uma coisa, seu moço,
o boi que o seu pai vai me dar é um que tem uma manchinha aqui na orelha?
E, apontando a orelha – roque-roque
– coçou-se com gosto.
– Na orelha? – o sonso do rapaz
nada percebeu. – Na orelha não tem, não senhor...
Mais um pouco e, com vontade de
coçar as costas, o caipirinha perguntou:
– Mas não é esse boi um que tem
um malhado aqui, na cacunda?
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