A onça e o macaco tinham feito sociedade e, certo dia, foram caçar na
floresta para passar o tempo.
De fato, caçaram muito, mas a onça não estava
satisfeita. E o que ela mais queria era matar e comer o macaco. Mas era-lhe
muito difícil pegá-lo desprevenido. O bicho era esperto demais e ninguém até
então conseguira surpreendê-lo.
Certa noite, estavam ambos na cabana, a onça deitada no chão e o macaco
na rede. Contrariamente ao seu costume, naquela noite a onça não dormia e o
macaco, muito preocupado, estava alerta. Fingia dormir, mas observava a
companheira.
De repente, a onça se levantou, aproximou-se cautelosamente da rede do
macaco, para ver se ele dormia. O macaco, matreiro, roncava profundamente e a
onça, convencida que o apanhara, levantou-se nas patas traseiras e estendeu as
unhas para o estrangular.
O macaco, porém, no instante preciso, pulou da rede, subiu pelos paus da
cabana e encarapitou-se lá em cima, dizendo:
— Ah, meu amigo! Não é assim tão fácil apanhar o macaco!
Em seguida, saiu, saltou para uma árvore próxima e foi ficar no galho
mais alto, não se mexendo dali apesar de a onça, com a cara mais ingênua do
mundo, jurar que ele estava enganado, que descesse, para que pudessem ir caçar
juntos novamente.
O macaco não foi tolo. Não deu ouvidos às mentiras da onça e, assim que
ela foi dar uma volta, ele se foi, pulando de galho em galho, para bem longe.
Foi então que começou a rivalidade entre a onça e o macaco. Este, muito
esperto, armava-lhe constantes ciladas, de que ela custava a escapar e a inimizade
foi ficando feroz, até que um dia o macaco apanhou a onça dormindo, depois de
enorme banquete. Então, deu-lhe umas machadadas na cabeça, matando-a. Depois
tirou-lhe o couro, assou a carne e foi à toca da onça. Entregou a carne à
onça fêmea, dizendo:
— Eis o que seu companheiro lhe mandou. Ele virá mais tarde.
A onça estava com fome. Assou melhor a carne e pôs-se a comer. O
filhote, porém, que tinha bom faro, notou que havia alguma coisa estranha
naquela carne e avisou a mãe, que não ligou e continuou a comer.
Quando terminou a refeição (de que o macaco compartilhara), este começou
a caçoar, dizendo que tinham comido a carne do companheiro e pai. A onça,
furiosa, quis agarrar o macaco, mas por mais que fizesse, não o conseguiu. Ele
não se deixou apanhar.
Afinal, a onça, cansada, pediu auxílio de uns animais.
— Vocês — disse-lhes — façam muito barulho, como se estivessem caçando
uma fera. O macaco, ouvindo isso, virá ver o que é e eu o arranjarei.
Os animais assim fizeram. Começou uma barulheira infernal. Como era
sabido, o macaco veio espiar. Mas trazia o machado consigo, dava machadadas
para todo o lado, perguntando:
— Kaiaba? Kaiaba? (Onde está? Onde está?)
E foi então que viu os dentes da onça à superfície da terra. A onça
tinha-se enterrado, deixando de fora só os dentes para apanhar o macaco. Este
deu-lhe meia dúzia de machadadas, quebrando-lhe a cabeça e, assim, acabou com a
luta.
(J. B. M. "Bakaru juko ro". Folha da Manhã. São Paulo,
14 de novembro de 1959)
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