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Era um rei que tinha anunciado pagar bem àquele que lhe contasse uma
mentira do tamanho do Padre Nosso. Correu ao palácio uma porção de gente; mas
ninguém contava uma mentira do tamanho que ele queria.
Um dia, um amarelo empapuçado, que só vivia na cinza, disse ao pai: - Meu pai, eu vou contar ao rei uma mentira do tamanho do Padre Nosso. O pai, a mãe, os irmãos do amarelo, caíram na gargalhada. - Ora vejam só!... Vai, amarelo! Tomara que o rei mande te dar uma surra. Quando gente que sabe onde tem o nariz sai de lá de crista murcha, quanto mais, tu, empapuçado... Porém o amarelo não se importou. Amarrou a trouxa e meteu o pé no caminho Chegando ao palácio, o rei perguntou-lhe: - O que é que tu queres, amarelo? - Rei, meu senhor, não disse que pagava a quem lhe contasse uma mentira do tamanho do Padre Nosso? Pois eu vim contar. - Então conta lá, - tornou o rei, fazendo ar de pouco caso. O preguiçoso começou: - Meu pai era um homem pobre que vivia de fazer lenha. Já estando velho, cansado de trabalhar, comprou uma burrinha para carregar a lenha. Tanta lenha carregou, que fez uma pisadura nas costas da burrinha. Então ensinaram ele que botasse favas na pisadura. Mas não explicaram se favas secas ou verdes. Ele botou favas secas. Nasceu um faval nas costas da burrinha. Quando as favas secaram, meu pai a bater com um pau e a burrinha com o rabo, colheu cem alqueires de fava seca, sem uma pêca. Para encurtar de razões: - meu pai tem um sino de cortiça, com badalinho de lã, que batendo, daqui a cem léguas se ouve, por terra chã. Quando o preguiçoso acabou de contar a mentira, o rei disse-lhe: - Arre, que essa é maior que o Credo, quanto mais que o Padre Nosso. (MAGALHÃES, Basílio. O folclore no Brasil) |
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