Precisa de ver como o meu pai é
bravo! Ele nem pergunta muito...Qualquer coisa e a gente já leva uns safanões.
Mas minha madrinha sempre dá um
jeito de me livrar das encrencas que eu apronto. E quando eu apronto, eu
apronto, mesmo!
Neste dia que eu estou contando
foi assim. Apareceu na minha casa um cara, que era meio parente do meu pai. E
quando ele foi embora eu descobri que ele tinha esquecido um maço de cigarros
inteirinho. Eu nunca na minha vida tinha fumado. Todos os meninos da minha classe
já tinham fumado e eles viviam gozando da minha cara por isso. Eu queria fumar,
nem que fosse pra dizer pros outros. Então eu roubei o maço, quer dizer, roubei
não, que achado não é roubado. Eu achei! Arranjei uma caixa de fósforos na
cozinha, escondi o maço e fui pro fundo do quintal. Subi no muro, que eu
gostava muito de ficar encarapitado no muro. Então eu peguei o maço de cigarros
e comecei a fumar.
Pra falar a verdade eu achei uma
droga! Mas eu já sabia que no começo a gente acha uma porcaria. A gente tem que
insistir, até acostumar. Não é fácil não! Eu fui fumando, fumando, fui
tossindo, tossindo, até que eu comecei a enjoar. Mas eu não parei, que ser
homem não é mole! Eu ia acendendo um cigarro atrás do outro. Cada vez que um
cigarro ia acabando eu acendia outro, que nem meu pai faz. Aí eu não vi mais
nada! Depois me contaram que eu caí do muro, do outro lado, na casa de dona
Esmeralda. Quando dona Esmeralda me viu caído no meio do quintal, com uma
porção de cigarros espalhados em volta de mim,viu logo o que tinha acontecido.
E pensou que se chamasse meu pai eu ia entrar na maior surra da minha vida. Então
ela chamou minha madrinha que, como eu já disse, costumava me livrar das minhas
trapalhadas.
Minha madrinha veio correndo. Então
ela e dona Esmeralda me levaram pra dentro, passaram água fria na minha cara,
até que eu acordei. E eu vomitei uns quinze minutos. Minha madrinha estava
muito assustada, que ela disse que eu estava cheirando cigarro puro, e que o
meu pai ia me matar de pancada se eu voltasse pra casa daquele jeito. Então ela
fez eu lavar a boca, foi até lá em casa buscar a minha escova de dentes... Mas
não adiantava nada...
Então dona Esmeralda veio lá de
dentro com um copo de pinga. Ela disse que a melhor coisa pra tirar cheiro de cigarro
é pinga. E me fez lavar a boca com pinga, até que ela achou que eu não estava
mais cheirando cigarro...
Aí eu e minha madrinha voltamos
pra casa. A gente entrou de mansinho pra não chamar a atenção do meu pai. Ele
estava sentado no sofá, vendo televisão. Eu passei por trás dele e fui indo pro
meu quarto, bem devagar... Meu pai nem olhou pra trás.
—Tuca - meu pai chamou – vem cá.
Precisa de ver que surra que eu
levei! Meu pai achou que eu tinha tomado pinga!
ROCHA, Ruth. 1999
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