Dois burrinhos viviam sua vidinha de burros de carga, arrastando-se sob
o peso de enormes balaios para cima e para baixo de tudo quanto é estrada.
Certo dia, seu dono carregou os dois com cargas diferentes. Um foi carregado de
farelo e o outro de ouro em pó.
O que carregava ouro encheu-se de orgulho:
– Ora, ora, enfim descobriram meu valor! Cá estou eu, com a honra que
mereço, carregado de ouro, como fidalgo que sempre fui! E você, pobre coitado?
Vê se não chega mais perto! Ande pela mesma estrada se quiser, mas bem distante
de mim, como devem andar os mendigos. Carregamento de farelo! Que vexame! O que
diriam as pessoas se me vissem, importante como sou, em companhia de um burro
tão burro como você? Distância, mendigo, distância de mim!
Um bando de salteadores viu os dois burros na estrada, um andando de
cabeça erguida, bem à frente do outro que seguia logo atrás. Estavam no papo!
Correram até eles e chegaram primeiro ao burro carregado de farelo. Abriram-lhe
os balaios e ficaram decepcionados:
– Farelo! Somente farelo! Que adianta roubarmos uma carga tão boba?
Correram então para o outro. Abriram-lhe o balaio e o ouro reluziu em
seus olhos.
– Ouro! Estamos ricos!
Valentemente, o burro resistiu, tentou escoicear, tentou fugir, mas,
agarrado pelo cabresto, levou uma valente sova de pauladas no lombo, antes que
lhe roubassem todo o ouro!
Pobre burro! Desancado de tanto apanhar, com a carga roubada, implorou
para o outro:
– Ui, ui! Acuda-me, amigo... estou arrebentado! Ajude-me a levantar...
O outro burro veio vindo, chegou-se perto e pensou em aproveitar a
ocasião para dizer algumas boas para o colega orgulhoso. Mas acabou desistindo
e ajudando o pobre espancado a levantar-se e seguir caminho. Todas as lições
que poderiam ser dadas já as tinha sentido o pobre burro no próprio lombo!
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