Todas as férias escolares e feriados prolongados, Ritinha e seus quatro irmãos iam para a fazenda de sua bisavó, Maria. Como toda fazenda, não lhes faltava lugares interessantes para brincar e deixar a imaginação voar solta!
A turminha era sempre a mesma: Ritinha, que era loirinha, de olhos azuis grandes e adorava inventar histórias, Marluce era sua irmã do meio, morena clara e destemida, dificilmente se abatia com alguma coisa, Rodrigo era inteligente, tinha faro de investigador e sempre solucionava tudo com seus óculos de aros pretos, Luana era a irmãzinha mais fofa da turma, loirinha e dengosa não se aventurava se não tivesse um doce à sua espera e o caçula era o pequeno Daclys, um principezinho que, por ser tão miudinho não se arriscava tanto com os demais, mas adorava dedurar tudo o que a turma fazia.
Certa vez, Ritinha descobriu um porão onde sua bisavó guardava vassouras de palha, materiais para fazer sabão, ração, produtos de limpeza e todo o tipo de quinquilharia que se guarda num cômodo desses. Assim que ela percebeu que se tratava de um lugar fechado e meio escuro, ela tratou de convocar toda a turma e começou a inventar a história de que lá no porão havia uma bruxa horrorosa que não gostava de crianças. Assustados, seus primos saíram correndo chorando e nem quiseram mais saber de passar por perto daquele lugar assustador!
Ritinha não perdia a oportunidade de dizer que a bruxa só falava com ela e ainda afirmava que ela não queria conhecer ninguém e que todos deveriam fazer tudo o que ela mandasse. Desse modo, a meninada fazia tudo o que a garotinha mandava, pensando serem ordens da tal bruxa horrenda.
Os dias foram passando e a garota espertalhona é quem sempre determinava as brincadeiras!
– Vamos brincar de pique esconde, agora de pique pega, agora vamos pular corda…!
E ai de quem discordasse de suas exigências! Ela jurava que a bruxa estava vendo tudo e que ficaria muito brava com as crianças que a desobedecessem.
Numa tarde, Rodrigo, que adorava se aventurar pelas redondezas da fazenda, viu que a porta do porão estava meio aberta. Apesar de seu medo, resolveu chegar perto para ver a bruxa. Quem sabe ela não falaria com o menino também?
Assim que ele chegou perto da porta e olhou para dentro, ele viu que não havia nenhuma bruxa lá, mas apenas vassouras velhas, materiais de limpeza e outros objetos, mas nada de bruxa horrenda! Aliviado, Rodrigo correu para contar aos irmãos o que ele tinha visto, todos vieram e entraram no porão.
Como Ritinha não estava perto, eles resolveram fazer uma brincadeirinha para que a menina também acreditasse naquela bruxa que ela mesma criou.
As crianças entraram lá, se esconderam e Rodrigo chamou Ritinha afirmando ter ouvido o chamado da tal bruxa.
Neste instante, Marluce começou a improvisar uma gargalhada assustadora de bruxa, Luana ficou provocando alguns ruídos com as vassouras velhas e até o pequeno Daclys tentou ajudar na missão de assustar a criadora da bruxa.
O ambiente foi ficando medonho e, de repente, Ritinha começou a chorar compulsivamente de pavor. Ela não conseguia entender o que realmente estava acontecendo.
Ao ouvirem seus soluços, a turma toda saiu de trás das prateleiras e começou a olhar fixamente para a menina que estava desconsolada.
– Por que vocês fizeram isso comigo? Por que quiseram me assustar desse jeito?
Rodrigo entrou na frente de todos e disse:
– Você é quem inventou essa história de bruxa para que nós fizéssemos tudo o que você mandasse achando que era essa criatura que você criou! Se não queria passar um susto desses, não deveria ter feito isso com a gente! Todos nós acreditamos na sua história e também tivemos muito medo de uma fantasia que nem existia!
– Me desculpem! Eu realmente não deveria ter inventado essa história de bruxa. Vocês conseguem me perdoar para que a gente volte a brincar como antes? Tentarei não ser tão mandona mais, e prometo que daqui pra frente, todos nós vamos decidir as brincadeiras juntos aqui na fazenda.
Nesse mesmo instante, Cida, a mãe da turminha foi até a varanda chamar a galerinha para almoçar. Marluce resolveu enxugar as lágrimas de Ritinha para que ninguém percebesse que ela havia chorado. Mais uma vez, a menina insistiu:
– Então, vocês me perdoam pelo que eu fiz? Vamos brincar?
E como amor de irmão sempre vence a tudo, todos responderam em coro:
– Simmmmmmmmmmmm! Vamos brincarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr?
Adriana da Silva Felisbino
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