A coruja e a águia botaram seus
ovos e deles nasceram seus filhotes.
Ficaram felizes da vida, pois
aquela era a primeira ninhada das duas.
Mas, logo a alegria deu lugar à
apreensão: como iriam sair tranquilamente para caçar, sabendo que a outra, ave
também carnívora, poderia assaltar o seu ninho e devorar sua nova família?
Por isso, combinaram um encontro
e, depois de muita discussão, resolveram celebrar a paz entre as duas.
– É isso mesmo, Comadre Águia.
Por que vamos brigar? Há caça para nós duas de sobra. Não devemos ter medo uma
da outra. Os outros bichos que tenham medo de nós!
– Concordo, Comadre Coruja.
Temos de caçar sossegadas, sabendo que nossos filhos estão tranquilos em nossos
ninhos, sem nenhuma ameaça por perto!
– Então fica assim combinado,
Comadre Águia: nós duas caçamos o que quisermos, mas nenhuma toca no ninho da
outra. Está bem?
– Claro que está, Comadre
Coruja. Mas só tem um problema: com tantos ninhos por aí, como eu vou saber
quem são os seus filhos?
– Muito fácil, Comadre Águia! –
respondeu a Coruja, sorrindo feliz. – É muito fácil reconhecer meus filhinhos.
São as avezinhas mais lindas do mundo! São fofas, delicadas, cheirosas, um
encanto! Entre todas as aves, não há filhotes mais lindos do que os meus!
A Águia entendeu e as duas
saíram voando, cada uma em busca de caça para alimentar seus filhotes.
A Coruja voou por todos os
cantos e conseguiu caçar um coelho bem gorducho.
Ah, aquele era um pitéu dos
melhores para seus filhos! E voou de volta para o ninho, carregando a caça no
bico.
Mas, quando chegou... que
horror! Era uma carnificina só! Dos seus filhotes não tinha sobrado nem pena,
mas havia uma pena grande caída no fundo do ninho: uma pena de águia!
Furiosa, desesperada, a Coruja
voou à procura da Águia, tomando satisfações:
– Comadre Águia! Não tínhamos
combinado uma respeitar a família da outra? E a senhora devorou todos os meus
filhotes!
A Águia até se ofendeu:
– Sou uma ave de palavra,
Comadre Coruja! Respeitei o nosso trato ao pé da letra.
Só devorei umas avezinhas
horrorosas, peladas e fedidas que encontrei em um ninho...
E lá voou triste a Coruja, para
seu ninho vazio, sem saber que, há 2.500 anos, um grego chamado Esopo tinha
inventado esta história e terminado com o ditado que sobrevive até hoje: “Quem
ama o feio, bonito lhe parece...”
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