Cansada de ser
enganada pela raposa e de não poder segurá-la, a onça resolveu atraí-la à sua furna.
Fez para esse efeito correr a notícia de que tinha morrido e deitou-se no meio
da sua caverna, fingindo-se cadáver. Todos os bichos vieram olhar o seu corpo,
contentíssimos. A raposa também veio, mas prudentemente de longe. E por trás de
outros animais gritou:
- Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes. Espirrar é o sinal verdadeiro da morte.
A onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. A raposa fugiu, às gargalhadas.
Furiosa, a onça resolveu apanhá-la ao beber água. Havia seca no sertão e somente uma cacimba ao pé duma serra tinha ainda um pouco de água. Todos os animais selvagens eram obrigados a beber ali. A onça ficou à espera da adversária, junto da cacimba, dia e noite.
Nunca a raposa curtiu tanta sede. Ao fim de três dias já não agüentava mais. Resolveu ir beber, usando duma astúcia qualquer. Achou um cortiço de abelhas, furou-o e com o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda.
Ao lusco-fusco, foi à cacimba. A onça olhou-a bem e perguntou-lhe:
- Que bicho és tu que eu não conheço, que eu nunca vi?
Respondeu cinicamente:
- Sou o bicho folharal.
– Podes beber.
Desceu a rampa do bebedouro, meteu-se na água, sorvendo-a com delícia e a onça lá em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem trazia sede de vários dias, murmurava:
- Quanto bebes, folharal!
Mas a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo às porções. Quando fartara as entranhas ressequidas, a última folha caíra, a onça reconhecera a inimiga esperta e pulara ferozmente sobre ela, mas a raposa conseguira fugir.
(BARROSO, Gustavo. Ao som da viola. Rio de Janeiro, 1921. In CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil)
- Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes. Espirrar é o sinal verdadeiro da morte.
A onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. A raposa fugiu, às gargalhadas.
Furiosa, a onça resolveu apanhá-la ao beber água. Havia seca no sertão e somente uma cacimba ao pé duma serra tinha ainda um pouco de água. Todos os animais selvagens eram obrigados a beber ali. A onça ficou à espera da adversária, junto da cacimba, dia e noite.
Nunca a raposa curtiu tanta sede. Ao fim de três dias já não agüentava mais. Resolveu ir beber, usando duma astúcia qualquer. Achou um cortiço de abelhas, furou-o e com o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda.
Ao lusco-fusco, foi à cacimba. A onça olhou-a bem e perguntou-lhe:
- Que bicho és tu que eu não conheço, que eu nunca vi?
Respondeu cinicamente:
- Sou o bicho folharal.
– Podes beber.
Desceu a rampa do bebedouro, meteu-se na água, sorvendo-a com delícia e a onça lá em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem trazia sede de vários dias, murmurava:
- Quanto bebes, folharal!
Mas a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo às porções. Quando fartara as entranhas ressequidas, a última folha caíra, a onça reconhecera a inimiga esperta e pulara ferozmente sobre ela, mas a raposa conseguira fugir.
(BARROSO, Gustavo. Ao som da viola. Rio de Janeiro, 1921. In CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil)
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