Zé Pandorga, pobre homem, sempre
foi um solitário.
Trabalhava sem olhar para
ninguém e voltava para casa, trancando-se sem cumprimentar nenhum vizinho.
Só pensava em trabalhar e em
juntar dinheiro.
Não prestava atenção em ninguém,
não ouvia os problemas dos outros e não contava seus problemas para qualquer
pessoa.
Vivia só, sem amigos, sem
companhia ou conversa.
Aos poucos, a solidão começou a
pesar no espírito do Zé Pandorga.
Passou a sentir falta de alguma
visita para conversar, para preencher a solidão de suas noites.
Foi ficando amargo, cada vez
mais mal-humorado.
– Essa gente não quer saber de
mim. E eu sei muito bem porquê. É que eles pensam que eu sou pobre. Hoje em
dia, ninguém presta atenção em quem é pobre!
Cada vez mais, foi aumentando a
sua raiva dos outros e, naturalmente, mais as pessoas se afastavam dele.
A solidão aumentava a raiva, e a
raiva aumentava a solidão.
Até que, um dia, ele imaginou
uma saída para o problema.
Comprou um presunto bem grande e
pendurou-o do lado de fora da porta da casa.
– Ah, essa gente só respeita os
ricos, não é? Pois eu vou mostrar uma coisa para eles. Aí está, ah, ah! Amanhã,
toda essa gente vai estar aqui, na minha porta, cheios de sorrisos e
cumprimentos! É o que eu digo: anzol sem isca não consegue pegar peixe...
Foi dormir e sonhou com todos os
amigos que conquistaria com a fama de ricaço que pendura um presunto na porta.
– Ah, ah! Nem o prefeito, nem o
coronel Tibúrcio tiveram uma ideia como a minha! Vou ser mais respeitado que o
prefeito. Mais até que o coronel!
Na manhã seguinte, logo que
acordou, correu e escancarou a porta da casa.
Realmente, haviam chegado muitas
visitas atraídas pela sua “isca de rico” que ele havia pendurado na porta:
centenas de moscas rondavam o presunto!
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