Como ficar rico







Era um homem muito esforçado, que trabalhou a terra com entusiasmo cada dia de sua vida. Mas sentia que a morte estava perto e preocupava-se, pois tinha muitos filhos e todos eram preguiçosos. Nenhum tinha a sua disposição e amor pelo trabalho.
Já velho, em seu leito de morte, chamou os filhos e declarou:
– Meus filhos, minha vida está no fim. Antes de morrer, quero que vocês saibam que eu deixei um grande tesouro enterrado em nossas terras. Uma fortuna incalculável!
– É mesmo, pai? – admiraram-se os filhos. – E em que parte de nossas terras está enterrado esse fabuloso tesouro?
– Está... está... – mas o velho morreu, antes que pudesse dizer mais nada.
Os filhos atiraram-se à terra. Escavaram-na em todos os cantos mas não conseguiam encontrar sequer um sinal do tesouro.
Como as terras eram extensas, a cada estação aproveitavam o terreno já revolvido
e plantavam alguma coisa, esperando mais tarde encontrar o tesouro quando cavassem outros cantos ainda não explorados.
O tempo foi passando. O tesouro não aparecia, mas a terra, vigorosamente revolvida, devolvia colheitas cada vez mais fartas.
Aos poucos, o resultado da venda das colheitas foi se tornando um tesouro de verdade, como o que ele tanto haviam procurado e acabaram encontrando como resultado de seu próprio trabalho!


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Adivinha, adivinhão





Era uma vez um homem muito sabido mas infeliz nos negócios. Já estava ficando velho e continuava pobre como Jó. Pensou muito em melhorar sua vida e resolveu sair pelo mundo dizendo-se adivinhão. Dito e feito. Arranjou uma trouxa com a roupa e largou-se. Depois de muito andar chegou ao palácio de um rei e pediu licença para dormir. Quando estava ceando o rei lhe disse que o palácio estava cheio de ladrões astuciosos. Vai o homem e se oferece para descobrir tudo, ficando um mês naquela beleza. O rei aceitou. No outro dia, o homem passou do bom e do melhor e não descobriu coisa alguma. Na hora de cear, quando o criado trazia o café, o adivinho exclamou, referindo-se ao dia que passara:
— Um está visto!
O criado ficou branco de medo porque era justamente um dos larápios. No dia seguinte veio outro criado ao anoitecer e o adivinhão repetiu:
— O segundo está aqui!
O criado, também gatuno, empalideceu e atirou-se de joelhos, confessando tudo e dando o nome do terceiro cúmplice. Foram presos e o rei ficou satisfeito com as habilidades do adivinho.
Dias depois roubaram a coroa do rei e este prometeu uma riqueza a quem adivinhasse o ladrão. O adivinho reuniu todos os criados numa sala e cobriu um galo com uma toalha. Depois explicou que todos deviam passar a mão nas costas do galo. O adivinho, cada vez que alguém ia meter o braço debaixo da toalha, fazia piruetas e dizia alto:
— Adivinha, adivinhão
A mão do ladrão!
Todos acabaram de fazer o serviço e o adivinho mandou que mostrassem a palma da mão. Dois homens estavam com as mãos limpas e os demais sujos de fuligem.
— Prendam estes dois que são os ladrões da coroa!
Os homens foram presos e eram eles mesmos. A coroa foi achada. O adivinho explicou a manobra. O galo estava coberto de tisna de panela, emporcalhando a mão de quem lhe tocasse nas costas. Os dois ladrões não quiseram arriscar a sorte e por isso fingiram apenas que o faziam, ficando com as mãos limpas.
O rei deu muito dinheiro ao adivinhão e este voltou rico para sua terra.

Versão registrada por Luís da Câmara Cascudo

Futebol de bichos




Jogo de futebol entre os bichos?
E por que não?
Pois era isso mesmo que ia acontecer na floresta!
Estava tudo mais ou menos organizado para o início do jogo, quando veio de lá a tartaruga, bem devagarzinho, reclamando:
– Eu também tenho o direito de entrar nesse jogo. Sou um bicho como outro qualquer. Se o futebol é de bichos, é para mim também!
Tanto a tartaruga reclamou que acabaram tendo de colocá-la em um dos times.
E que times!
Um dos goleiros era o elefante e não sobrava quase nenhum espaço para marcar gol.
O outro goleiro era o leão... E faltava coragem para chutar contra ele.
Além disso, toda hora o jogo parava, pois, sempre que o leão agarrava uma bola, tinham de arranjar outra, porque o couro ficava em tiras.
Tinha até acontecido um treino em que ele comeu uma bola inteirinha!
E o jeito tinha sido arranjar outra bola...
De um lado, o zagueiro central era a girafa e não passava bola alta por ali.
Ela cabeceava todas!
Já o zagueiro do time do leão era o rinoceronte. Tinham espetado uma melancia no chifre dele para que a bola não fosse furada quando ele cabeceasse, vejam só!
O canguru era o centroavante do time do elefante e, em poucos pulos, entrava pela área adentro!
Do outro lado tinha a lebre e não havia quem conseguisse alcançá-la na corrida!
O problema era a ponta-esquerda: no time do leão, tinha o macaco, rápido e driblador como ele só.
Mas, infelizmente, no time do elefante o ponta-esquerda era a tartaruga...
Logo que o jogo começou, a raposa chutou uma bola para a frente, dando um passe em profundidade para a tartaruga.
E ela tratou de correr...
Só que, quando já estava no final do segundo tempo e a partida estava empatada com dois gols para cada lado, marcados pela raposa e pelo canguru para o time do elefante, e pela lebre e pela zebra para o time do leão, a tartaruga estava quase chegando...
Foi aí que a bola veio alta para a área do time do leão.
A zebra cabeceou e a bola caiu perto da tartaruga...
O rinoceronte, querendo mandar logo o perigo para a frente, correu e chutou.
Só que ele não viu direito e foi dar um tremendo chute na pobre da tartaruga!
Coitada! Ela era igualzinha a uma bola de couro!
O juiz Armandinho Corujão apitou pênalti na hora!
– Priiiii! Pênalti! É pênalti! Não pode chutar o adversário dentro da área!
E foi assim, com um pênalti arranjado pela tartaruga, que o time do elefante foi campeão do grande torneio de futebol da floresta!

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Agora Não, Bernardo








- Oi pai (disse o Bernardo) – (O pai está pregando um prego na parede)
- Agora não Bernardo (disse o pai enquanto martela o dedo. Nem olha para Bernardo. Bernardo vira as costas e sai).
- Oi mãe (disse o Bernardo para mãe que está arrumando as louças num armário da cozinha, nem olha para Bernardo).
- Agora não Bernardo (Disse a mãe lavando louças, sem olhar para Bernardo. Bernardo esfrega o queixo pensativo).
- Tem um monstro no jardim e ele vai me devorar – (disse o Bernardo para a mãe que está na sala regando uma planta. Bernardo aponta para o jardim).
- Agora não Bernardo – (disse a mãe sem olhar para Bernardo. Bernardo fica parado pensando).
(Bernardo foi para o jardim)
- Oi monstro – (Bernardo disse para o monstro. O monstro olha para Bernardo).
(O monstro devorou o Bernardo inteirinho, pedacinho por pedacinho, monstro se lambe e mostra o tênis do Bernardo).
(Monstro entra em casa)
“Ruarrrrrr, fez o monstro por trás da mãe de Bernardo”.
(a mãe está pintando uma parede)
- Agora não Bernardo – (disse a mãe sem olhar para o monstro. O monstro faz uma cara de assustado).
Monstro vai até a sala e morde a perna do pai de Bernardo que está lendo um jornal.
(O monstro mordeu o pai do Bernardo)
- Agora não Bernardo – (disse o pai de Bernardo, com raiva e sem olhar para o monstro).
- Seu jantar está pronto – (disse a mãe do Bernardo, segurando um prato de comida. Ela o coloca na frente da TV).
A mãe sai.
(O monstro jantou, depois viu televisão, leu uma revistinha e quebrou um brinquedo dele. A mãe está ao telefone conversando com uma amiga).
- Vá para a cama. Já deixei seu leite no quarto – (gritou a mãe de Bernardo).
(Monstro segura um ursinho e vai para o quarto).
- Mas eu sou um monstro! – (disse o monstro, já sentado na cama, com o copo de leite e o ursinho ao seu lado).
( A mãe do Bernardo apaga a luz do quarto e diz:)
- Agora não Bernardo.

Adaptação do livro "Agora Não Bernardo" de David Mckee
por Vera Stefanello

O TATU BOLINHA







Hoje gostaria de contar uma história que aconteceu no jardim de minha avó.
Ela tinha muitas flores e o pouco que entendo de flores devo as lições que ela me dava.
Mas nada me impressionou tanto como a história do tatuzinho.
Estava ela regando as plantas quando eu vi um bichinho sair correndo e se enfiar na terra num minúsculo buraquinho.
Corri para minha avó e contei o que havia visto toda surpresa, pois como o bichinho iria respirar em baixo da terra!
- Calma minha linda - disse a vovó - vamos ver o que você realmente viu.
E assim começou a me falar das minhocas, formigas e outros nomes de bichinhos que vem na terra.
- Por isso - disse ela - é que uso luvas e sempre peço a você que lave as mãos com sabão depois de brincar na terra.
- Ela esconde muitas coisas que ainda nem sabemos o que é, mas que nos fazem mal.
- Como fazem mal vovó?
- Sem querer, é claro, às vezes estão apenas se defendendo, pois aquele é o mundo deles.
- Sempre que vir algo diferente fique a distância e não ponha o dedo ou a mão.
- Eles mordem?
- Não, mas pelo que sei picam e sei que vai doer muito, e é preciso depois ir ao médico para se cuidar.
- Vovó, veja o bichinho está saindo do buraquinho!
- Sei, estou vendo. Veja o que ele vai virar!
Espantada vi o bichinho virar uma bolinha!
Fiquei de boca aberta e puxando seu avental gritava para saber o que acontecera?
- Minha querida, assim como uma bolinha ele está se escondendo de nós.
- Daqui a pouco ele volta a andar e correr novamente, mas se você tocar nele, imediatamente ele se transforma em bolinha.
- Incrível vovó, nunca vi uma coisa assim! - disse eu extasiada.
Aí então veio a lição da vovó que nunca vou esquecer.
- Ouça o que a vovó tem para te dizer:
- Na vida, às vezes, temos situações quase iguais a do bichinho.
- Estamos em nossos lugares e de repente vem alguém e tenta nos ferir ou até fere, e o que fazemos?
- Nós nos escondemos de tais situações com medo de ser ferido como o bichinho, mas está errado.
- Devemos, sim, enfrentar nossos medos com cautela e resolvê-los para que não necessitemos virar bolinha.
- Você entendeu o que eu quis te dizer?
- Mais ou menos vovó.
- Quando eu tiver medo ou um problema não devo me esconder, pois ele continuará ali.
- Devo sim tentar resolvê-lo não é mesmo?
- Isso minha menina esperta, e agora pegue um vidro que vamos colher as minhocas para o seu avô ir pescar.
- Mas vovó, coitadinhas!
- Querida cada um destes bichinhos tem o seu propósito, e nós temos o nosso, mas este é um assunto para uma outra hora.
- Vamos então a nossa tarefa.
E hoje muitas vezes tento não ser o tatu bolinha... 

Desconheço o autor