Em Bom Despacho
tinha uma fazenda à venda, mas ninguém queria comprar: era mal-assombrada.
Quando o preço chegou lá embaixo, veio de Luzes um comprador para fechar
negócio.
O caseiro aconselhou o homem a passar a noite na fazenda e deixar a
decisão para o dia seguinte. E o homem ficou para dormir.
De madrugada, acordou com uma voz cavernosa:
De madrugada, acordou com uma voz cavernosa:
------ Caaaaaaio? Caaaaaaio? – a voz repetia.
Acontece que o homem se chamava Caio. Ele estranhou muito e foi com
custo que gaguejou:
------ A-a-a-qui.
E na mesma hora um osso de perna caiu em cima dele.
O homem gelou. Mas não adiantava correr, a assombração sabia até seu
nome. Melhor era continuar deitado e se cobrir todinho.
Dali a pouco o vozeirão recomeçou:
------ Caaaaaaio? Caaaaio?
E se a assombração não soubesse o nome dele coisa nenhuma e estivesse só
perguntando se podia cair? Por via das dúvidas, Caio murmurou:
------ Sim.
Caiu outro osso. E Caio matutava. Será que a assombração estava pensando
que “Sim” queria dizer “Sim, pode cair”? Ou “Sim, sou eu, o Caio”? Resolveu
desvendar a questão de uma vez por todas.
-----Eu!?!
Caiu mais um osso.
Caiu mais um osso.
De novo:
----- Caaaaaio? Caaaaaaaaaio?
E o Caio, para testar:
---- Cai!
Caiu outro osso.
Aí o Caio começou a achar que a assombração estava gozando a cara dele.
------ Caiiiuuuu!? – por coincidência, a assombração desafinou nessa
hora.
O homem teve um treco. Deu dois tiros para o alto, chorando nervoso:
----- Cai, mas cai logo, que eu não aguento mais essa história!
E para a surpresa, quem despencou do forro do teto foi o caseiro, que
não queria dono novo na fazenda onde ele gostava de vadiar.
LAGO, Ângela. Sete histórias
para sacudir o esqueleto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002
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