Acompanhado do Pisco, o cãozinho mais companheiro
que um garoto pode ter na vida, Cláudio voltava para casa, depois de uma
partidinha de futebol com os amigos.
No caminho, lá estava a confeitaria.
Beleza! Vitrina como aquela era mais bonito de ver
do que vitrina de loja de brinquedos. Afinal, Cláudio já estava grande demais
para brinquedinhos. O que ele gostava mesmo era de jogar bola. Bom, ele gostava
também de empinar pipa, de videogame, de futebol de botão e poucas coisas mais.
Tudo do mesmo jeito e do mesmo tamanho que ele gostava de... de chocolate!
E ali estava a vitrina com bombons, caramelos e...
enormes barras de chocolate!
Ai, que vontade de comer chocolate!
O preço estava ali mesmo, em etiquetas coladas nos
doces. Uma fortuna!
Cláudio revistou cuidadosamente os bolsos, mas já
sabia o que iria encontrar lá: duas tampinhas de garrafa, um botão grande de
casaco que ele pretendia esfregar bastante no cimento até ficar bem lisinho e
entrar para o seu time de futebol de botão, uma fieira de jogar pião, um toco
de lápis vermelho sem ponta, um soldadinho de plástico, um maço de figurinhas
para troca, uma bisnaga quase vazia de cola para fazer pipa e quatro caroços de
pitanga. Tudo eram coisas muito necessárias, mas não havia dinheiro. Nem um
centavo.
O menino fez uma força danada para ir embora. Mas,
da mesma forma que seus olhos não desgrudavam das barras de chocolate, seus pés
não queriam sair do chão.
Ai, que vontade de comer chocolate!
Mas, sem dinheiro, o que fazer?
Por que tudo que é bom é tão caro? Que nem aquele
par de patins que o pai prometia comprar “quando suas notas fossem boas na
escola”. Daí, as notas do Cláudio ficaram
ótimas e o assunto do presente foi adiado para
“quando as coisas melhorarem...”
– O que será isso de “coisas melhorarem”, Pisco?
Ah, se eu pudesse comprar essa barra de chocolate, aí é que as coisas iam ficar
bem melhores...
Ao seu lado, Pisco não parecia nada interessado em
chocolate. Coçava a orelha com a pata de trás e esperava calmamente, até que
seu dono decidisse para onde ir.
Dentro da confeitaria, Cláudio viu uma senhora
abrir a bolsa e pagar a conta na caixa. Pegou seu pacote, virou-se e saiu
apressada.
Mas o menino reparou que, quando a mulher remexeu
na bolsa, uma nota tinha caído no chão. Mesmo dali, da entrada da loja, ele
podia ver que era uma nota de alto valor, que dava para comprar várias barras
de chocolate!
Pelo jeito, só Cláudio tinha visto o dinheiro cair
no chão. Ninguém mais tinha percebido. O homem que atendia no balcão estava
entretido com seu trabalho e, de onde estava, a moça da caixa não podia enxergar
a nota caída.
Nem o Pisco deu atenção. Bem, se a tal senhora
tivesse deixado cair um bom osso, a coisa seria diferente. Os cachorros
preferem ossos a chocolate.
“Dinheiro dos grandes!”, pensava o menino, olhando
para a nota. “E ninguém está vendo. Acho até que dá pra comprar os patins com
essa grana. E ainda sobra para a barra de chocolate... Imagine, que mulher
distraída, pra deixar cair dinheiro assim e nem notar!”
Com o rabo de um olho, via a barra de chocolate,
com nozes e mel, quietinha, ali na vitrina. Com o rabo do outro olho, lá estava
a nota...
Cláudio demorou só um segundo pensando nisso tudo e
tomou sua decisão: em três passos, entrou na confeitaria, abaixou-se, pegou a
nota e saiu correndo porta afora.
Mas aquele segundo de pensamento deveria ter sido
longo demais. Olhou para os dois lados da rua e... nada da mulher que tinha
perdido o dinheiro!
– Cadê ela, Pisco?
– Au, au! – respondeu o Pisco, feliz por correr
junto com o dono.
– Venha, Pisco! Acho que ela foi por ali!
– Au, au!
Cláudio virou a esquina. Tinha pouca gente na rua e
nenhuma era a senhora com a bolsa e o pacote.
Na sua mão, a nota enrolada parecia queimar-lhe a
palma.
“Se fosse a barra de chocolate, já estaria
derretida...”, pensava ele.
Mas, ao mesmo tempo, sua preocupação era outra:
“Como é que uma senhora como aquela pode andar tão
depressa?
Pisco deu meia volta e disparou para o outro lado.
– Ei, Pisco! Aonde você vai? Volte aqui!
– Au, au! – latiu Pisco, parando na outra esquina,
como se tivesse entendido o que seu dono procurava. Com a linguinha de fora,
olhava para Cláudio.
Cláudio correu e olhou para onde o cachorrinho
latia. Lá ia a senhora com seu pacote, andando rapidinho.
– Dona! Espere um pouco!
A mulher parou e olhou para trás. Achou meio
estranho aquele menino e aquele cachorro correndo em sua direção. E, depois,
ficou foi surpresa quando viu o garoto chegar e estender-lhe a mão. Dentro
dela, havia uma nota meio amassada.
– Dona, a senhora deixou cair este dinheiro no
chão...
A mulher parou, olhou e aceitou a nota com um belo
sorriso de agradecimento:
– Obrigada, menino – disse ela, enquanto procurava
outra nota na bolsa. – Você merece uma recompensa! Por favor, aceite isto e
compre alguma coisa para você.
Cláudio chegou em casa feliz da vida. Os dedos
estavam manchados de chocolate.
Mas, no coração, estavam as marcas gostosas de um
sentimento forte, mais intenso e doce que qualquer chocolate do mundo!
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