Cidinha esdrúxula







Cidinha andava metida a poeta e vivia rimando tudo o que escrevia. Era um tal de rimar amor com flor, carvão com  facão, maldade com cidade, fada com  nada e  minha com  linha, que não acabava mais.
Denis resolveu provocar as poetices da Cidinha:
– Ora, é ridículo rimar palavras terminadas com ão, ada,  inha, ore ade, Cidinha!  Isso qualquer um sabe. O que eu quero ver é você fazer rimas com as tais palavras proparoxítonas!
Sem pensar, a menina aceitou o desafio:
– Fácil, Denis. É claro que eu consigo!
– Ah, é? Denis ficou alegríssimo, porque sabia que a tarefa era impossível. – Vale uma aposta? Faça versos rimando lâmpada e lágrima. Se você não conseguir, vai ter de dar uma volta inteirinha no pátio da escola, pulando agachada, batendo os braços feito asa de galinha e cacarejando, topa?
– Topo! – aceitou Cidinha. – E você, seu provocador, se perder, vai ter de dar uma volta no recreio usando um vestido!
Cidinha ficou com aquela aposta na cabeça. Não podia perder! E, quando a menina encasquetava uma coisa, não havia quem lhe desencasquetasse. Passou o dia tentando, e tentando, e tentando.
No dia seguinte, reuniu a patotinha no pátio do recreio e, muito lampeira, estendeu o caderninho para o Denis:
– Aqui está, seu Denis! O que eu quero conseguir eu consigo. Vamos ver: cante isso bem alto, com a música de “Ciranda, Cirandinha”, para todo mundo ouvir!
A roda fechou-se em torno dos dois, e o menino não teve outro jeito senão obedecer. E o que leu, cantando, foi isto:

Com carinho e muito zelo
coloquei a tampa da
caixa do meu vestidinho
bem pertinho de uma lâmpada!

Tirar nota sem estudo
pode ser milagre mas
se o santo não ajuda
o que resta são as lágrimas...

Quem achar que esse verso
é uma coisa sem sentido
vai ter de andar no pátio
rebolando num vestido!

E a garotada de toda a escola morria de rir com a cara vermelha do Denis, implorando para não ter de cumprir o castigo!


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