Correndo pra cachorro







Acontece que o Leo, metido como sempre, desafiou todos os garotos da rua que tivessem cachorro.
O cachorro do Leo era um galgo, elegante mas antipático. E o garoto veio dizendo que o seu galgo era o mais rápido de todos os cachorros da rua:
– Quem duvidar que venha com o seu cachorro para encarar o meu! A corrida vai ser daqui da nossa rua até a linha do trem!
Ninguém deu pra trás:
– Eu vou nessa!
– Eu também!
Todo mundo topou.
E o Renato? O seu cachorro era o Peralta, um vira-latinha de nada, carinhoso como ele só, mas que não parecia disposto a aceitar desafios nem tentar parecer melhor do que ninguém. Mas como é que o Renato ia afinar numa hora daquelas?
– Eu também topo! O Peralta também tá nessa!
Os colegas esconderam o riso, mas o Leo não se aguentou:
– O Peralta? Ah, ah! Esse vira-latinha não ganha nem corrida de minhoca!
Atravessaram uma fita verde e amarela entre um poste e uma árvore no fim da rua, logo antes da linha do trem. No começo da rua, alinharam os cachorros, atrás de uma linha riscada com giz no asfalto. Dali até a linha verde e amarela de chegada haveria uns cem metros.
Tudo preparado, o Leo gritou:
– Já!
Só que nenhum dos cachorros deu a menor importância para o grito do Leo. Continuaram todos onde estavam, brincando ou descansando de acordo com sua vontade...
Até o galgo ficou quieto, lá na dele, sem ligar para a corrida...
O Peralta também ficou por lá, sacudindo o rabinho e convidando o orgulhoso cachorrão pra brincar. Mas o galgo rosnou, sem querer saber de intimidades.
– E agora? – lamentou-se o Leo, coçando a orelha. – Como é que a gente vai explicar pra essa cachorrada o que é uma corrida?
– É fácil! – propôs Renato. – Vamos arranjar algumas salsichas. A gente amarra as salsichas num cabo de vassoura e sai correndo na frente dos cachorros. Eles vão correndo atrás das salsichas e a corrida dá certinho!
– Ah, é? – duvidou Cidinha, que não tinha nenhum cachorro, mas não perdia uma farra por nada desse mundo. – E quem é que vai correndo na frente? Quem é capaz de correr mais que um cachorro?
– Hum... – coçou-se o Leo novamente, sem saber o que fazer.
Mais uma vez foi o Renato que veio com a solução:
– Ora, Leo, você tem uma bicicleta motorizada. É só sair a toda carregando o cabo de vassoura. Sua bicicleta corre mais do que qualquer cachorro, não corre?
Assim ficou decidido. O Leo foi buscar a bicicleta e cada um dos donos de cachorro fez um assaltozinho na geladeira de suas casas e, no fim, foi possível juntar três salsichas, quatro linguiças, um pedaço de paio e um resto de toucinho. Amarraram tudo na ponta do cabo de vassoura e a corrida estava pronta para começar.
– Segura firme aí, gente! Senão a cachorrada sai antes da hora!
Cada um segurou o seu cachorro como pôde e o Leo montou na bicicleta, levantando alto o cabo de vassoura com a comida.
– Tudo pronto? Lá vou eu, turma!
Dessa vez, logo que o Leo arrancou com a bicicleta motorizada, foi Cidinha quem deu o sinal de partida:
– Jáááá!
Foi um alvoroço! Os donos largaram os cachorros e a cachorrada disparou como louca atrás do Leo. Em um segundo, perderam-se na poeira...
Foi aí que todos descobriram que havia mais um erro de planejamento daquela corrida: se o pessoal não era capaz de correr na frente dos cachorros, também não era capaz de correr atrás e alcançá-los a tempo de estar na linha de chegada para ver qual deles, afinal de contas, tinha chegado primeiro...
– Vamos lá, pessoal! Quem será que ganhou?
– Foi o meu, claro!
– Que nada! Foi o meu!
Quando a garotada chegou à linha do trem, os cachorros, na maior algazarra, cercavam o Leo, latindo a mais não poder!
E o Leo? Coitado! Tinha abandonado a bicicleta e estava trepado na árvore de chegada, morto de medo de ser devorado pelos cachorros junto com o prêmio principal da  corrida!
– Aguenta firme, Leo! O lanche pertence ao vencedor!
Mas, quem tinha sido o vencedor?
Nessa hora, todos olharam para o galgo. Lá estava ele, latindo furioso para o dono, louco para devorar o prêmio...
Ao pé da árvore, sentado, com o rabinho a sacudir, estava o Peralta. E, atravessada na boca do Peralta, lá estava a fita verde e amarela de chegada!
– O Peralta! Foi o Peralta quem chegou primeiro!
Que cachorrinho danado! Um vira-latinha de nada como aquele tinha vencido a corrida!
– Todos os cachorros merecem prêmio, pessoal! – decidiu Renato. – Leo, divida o lanche daí de cima. Um pedacinho pra cada um!
Lá de cima da árvore, muito sem jeito com a derrota do seu elegantíssimo galgo, o Leo foi obrigado a partir a comida com as mãos e jogar os pedacinhos para os cachorros...
– Viva o Peralta! – gritavam todos. – O cachorro mais rápido da rua!

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