Um rapaz enamorou-se de uma
menina muito bonita e prendada, mas foi avisado pelos amigos de que ela possuía
um grave defeito: teimava sem que ninguém a convencesse. O rapaz, que estava
gostando muito da moça, decidiu-se a pedir-lhe a mão em casamento, apesar das
informações.
O futuro sogro chamou-o para uma
conversa reservada e disse-lhe a mesma coisa. A filha era boa dona de casa,
honesta, econômica e séria, mas teimava como jumento.
— Não se preocupe com isso —
respondeu o noivo — deixe por minha conta!
Casaram-se. Foram levados para a
residência preparada e todos foram embora. Os recém-casados conversaram muito
e, pela meia-noite, um galo começou a cantar. O marido resmungou:
— Eu pedi ao galo que deixasse a
cantiga para mais tarde.
Continuaram conversando e outro
galo os interrompeu.
— Galo teimoso! Merece um
castigo. Se ele cantar novamente...
O galo voltou a cantar. O rapaz
segurou a espada, desembainhou-a e saiu. Voltou com o galo atravessado na
lâmina da arma. Espetou-a num canto do quarto e disse para sua assombrada
esposa:
— Para quem é teimoso, tenho
ponta de espada!
A mulher encolheu-se toda,
tremendo de medo. Nunca se atreveu a teimar. Viveram como Deus com os anjos.
O velho sogro é que ficou
espantado com a obediência da filha e tanto perguntou ao genro o segredo que
este lho confiou. Deliberou o velho empregar o mesmo processo e, durante a
noite, assim que o galo cantou, ele deixou a cama e voltou com o pobre bicho
espetado numa faca. E disse, muito sério:
— Para quem é teimoso, tenho
ponta de faca!
A velha, sem se alterar,
respondeu:
— Perdeu seu tempo! Mata-se o
galo na primeira noite, seu bobo.
(Em Cascudo, Luís da Câmara. Literatura oral no
Brasil. 3ª ed. Belo Horizonte / São Paulo, Editora Itatiaia / Editora da
Universidade de São Paulo, 1984. Reconquista do Brasil (nova série), v. 84,
p.307-308)
Nenhum comentário:
Postar um comentário